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Wagner Pires é expulso do Conselho do Cruzeiro dois anos após renúncia

Conselheiros julgaram o ex-presidente tendo como base 13 denúncias aceitas pelo Comitê de Ética e Disciplina

postado em 07/02/2022 21:17 / atualizado em 07/02/2022 21:59

(Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)
Dois anos, um mês e 19 dias depois de assinar a renúncia ao mandato de presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá foi expulso do quadro de conselheiros do clube na noite desta segunda-feira (7). 

Principal responsável pelo primeiro rebaixamento da história da Raposa, em 2019, e uma das peças-chave do colapso financeiro vivido pelo Cruzeiro, Pires de Sá teve o mandato de conselheiro benemérito cassado por seus pares em reunião extraordinária no Parque Esportivo do Barro Preto. 

Após longo período de inércia, conselheiros beneméritos, natos e efetivos tomaram a decisão em placar dilatado: 113 votaram pela expulsão, enquanto apenas 20 foram contrários à medida. Houve também dois votos nulos e um voto em branco. A Mesa Diretora do Conselho Deliberativo usou como justificativa para o quórum relativamente baixo a alta de casos de COVID-19, com a disseminação da variante ômicron. 

Presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues foi uma das ausências. Em carta enviada a conselheiros nesta manhã, ele se justificou. "Peço desculpas por não estar presente em razão de um convite para participar de evento organizado pela FIFA em Abu Dhabi", disse. Na mesma mensagem, ele pediu que os conselheiros votassem pela expulsão de Wagner.

Nesta segunda-feira, conforme apurou a reportagem, os conselheiros votaram com base em 13 denúncias contra Wagner aceitas pelo Comitê de Ética e Disciplina do Conselho Deliberativo. Uma das principais é a utilização do cartão corporativo do Cruzeiro pelo ex-dirigente para gastos pessoais entre 2018 e 2019 - revelada em série de reportagens do Superesportes em abril de 2020.

O relator do processo de Wagner foi Herones Márcio Amaral Lima, sorteado em meados de 2021 para a função. Procurado nesta segunda-feira pela reportagem, ele optou por não se manifestar. Os outros integrantes do Comitê de Ética e Disciplina são Flávio Antonio de Carvalho, Eduardo César, Nilson Luiz Labruna e Clemenceau Chiabi Saliba Júnior.

Com o resultado, Wagner perde o mandato de conselheiro benemérito. Agora, seu processo será direcionado para a Comissão Disciplinar de Associado, que poderá, por meio de decisão monocrática, definir pela expulsão do ex-presidente do quadro de associados do Cruzeiro - a expectativa nos bastidores é de que isso aconteça nas próximas semanas.

Eleição e força política


Eleito em outubro de 2017 com apoio do então presidente Gilvan de Pinho Tavares, o economista Wagner Pires de Sá pregou o discurso de que faria "engenharia financeira" para equilibrar as finanças celestes. 

(Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)
No entanto, antes mesmo da posse, em janeiro de 2018, tornou-se figura decorativa na gestão do Cruzeiro ao delegar suas atribuições a dois homens de confiança: Itair Machado e Sérgio Nonato.

Politicamente, Wagner se afastou de Gilvan também antes da posse e, com distribuição de cargos remunerados - o que é vedado pelo Estatuto -, fortaleceu um outro grupo de apoio dentro do Conselho Deliberativo: a famosa Família União.

Fracasso em campo


No primeiro ano da gestão de Wagner, o Cruzeiro venceu, com o elenco montado  por Gilvan, o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil - tendo faturado premiação recorde de R$ 61,9 milhões pela segunda conquista. 

Em 2019, o clube celeste ganhou o bi consecutivo do estadual, novamente em cima do rival Atlético, e fez boa campanha na fase de grupos da Copa Libertadores - líder isolado do Grupo B, com 15 pontos.

O 'mar de rosas' se transformou em 'coroa de espinhos' a partir do momento em que o mandato de Wagner Pires virou assunto nas páginas policiais. No dia 26 de maio, o programa Fantástico, da TV Globo, tornou pública a investigação da Polícia Civil contra a diretoria cruzeirense por suspeitas de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica.

(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
O caos político e administrativo refletiu no futebol. Depois de ser eliminado para River Plate, nas oitavas de final da Copa Libertadores, e Internacional, pela semifinal da Copa do Brasil, o Cruzeiro fez campanha muito ruim no Campeonato Brasileiro - a pior de sua história na era dos pontos corridos - e caiu para a Série B em 17º lugar, com 36 pontos em 38 rodadas.

A falta de planejamento ao longo da competição acelerou o rebaixamento inédito à Segunda Divisão. Substituto de Mano Menezes, Rogério Ceni durou apenas oito jogos como técnico, enquanto Abel Braga, que entrou no lugar do ex-goleiro, contabilizou 14 partidas. Adilson Batista não conseguiu cumprir a missão de 'salvador da pátria' nas três rodadas finais.

Descontrole financeiro


O prometido 'equilíbrio financeiro' nunca foi visto durante a gestão de Wagner Pires de Sá. Em 2019, ano do rebaixamento, o clube ficou com três meses de salários atrasados, além de oito meses de direitos de imagem pendentes com os jogadores. 

Os atrasos geraram uma debandada no elenco ao fim da temporada. Ativos do clube, como o zagueiro Fabrício Bruno, o volante Éderson e o atacante David, hoje negociados por milhões de reais no mercado da bola, deixaram a Toca da Raposa II de graça após vitórias em disputas judiciais.

Inicialmente, a dívida geral subiu de R$ 386 milhões, no último ano da presidência de Gilvan (2017), para R$ 520 milhões, na primeira temporada de Pires de Sá (2018). Já o balanço de 2019, de acordo avaliação da Pluri Consultoria, foi o pior já apresentado por um clube na história do futebol brasileiro.

O déficit de 2019, último ano da gestão Wagner, foi de R$ 394 mil - prejuízo superior a R$ 1 milhão por dia. Hoje, a dívida total do Cruzeiro é estimada em cerca R$ 1 bilhão.

Réu na Justiça


Em agosto de 2020, a Polícia Civil concluiu investigação de possíveis crimes praticados por Wagner Pires de Sá e seus diretores. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que ofereceu denúncia em novembro daquele ano.

Ao lado de Itair Machado, Sérgio Nonato, Fabrício Visacro e outros quatro empresários, Pires de Sá se tornou réu por quatro crimes:  lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsidade ideológica e organização criminosa. Segundo o MPMG, o rombo nos cofres do clube na gestão de 2018/2019 foi estimado em R$ 6,5 milhões.

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