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TAE KWON DO

Casal de namorados de Minas fatura medalhas no tae kwon do nos Jogos Pan-Americanos de Lima

Icaro Miguel e Raiany Fidelis subiram ao pódio em Lima, no Peru

postado em 05/08/2019 06:00 / atualizado em 05/08/2019 12:22

<i>(Foto: Arquivo pessoal)</i>
O tae kwon do brasileiro conquistou um feito inédito nos Jogos Pan-Americanos de Lima ao ganhar sete medalhas com oito atletas na delegação. Mas uma história especialmente chamou a atenção. Namorados, os mineiros Icaro Miguel, de 24 anos, e Raiany Fidelis, de 25, foram dois dos atletas que subiram ao pódio na edição peruana do evento. Mas o que pode passar despercebido aos olhares de quem acompanha de longe suas carreiras é o papel fundamental do amor e companheirismo nos resultados de cada um deles.

A trajetória dos dois no esporte começou cedo, mas demorou algum tempo para se cruzar. Com oito anos, por influência dos pais, o rapaz nascido em Belo Horizonte e criado entre Juatuba e Betim, iniciou sua jornada na arte marcial. Aos nove, Raiany lutava jiu-jitsu, mas acabou migrando para o tae kwon do meses depois. E foi justamente a opção da jovem em trocar de modalidade que pôde unir o casal.

Amigos desde a adolescência, a dupla mineira de medalhistas pan-americanos se conheceu por volta dos 14 anos. Entre um treino e outro das categorias de base da Seleção Mineira, Icaro e Raiany foram se aproximando. Durante esse período, os dois viajaram para diversas competições e, por isso, ficaram cada vez mais ligados.

Mas foi a partir de 2014 que a relação tomou um rumo diferente. Raiany se mudou em maio daquele ano para São Caetano do Sul, em São Paulo, onde passou a treinar com Clayton e Reginaldo dos Santos, mestres de tae kwon do. Logo depois, em maio, foi a vez de Icaro ir para a cidade paulista. Dividindo o tatame e sobre a batuta dos mesmos técnicos, o apoio e o companheirismo foi fundamental no desenvolvimento de cada um. E foi por isso que estes atletas puderam alcançar o patamar em que estão hoje. “A gente sempre se ajuda dando palpites. Às vezes, no treino, um de nós precisa corrigir alguma coisa e o outro ajuda. A gente tem uma relação bem aberta referente a isso”, contou Icaro.

Medalhista de prata no Pan de Lima na categoria até 87kg, Icaro Miguel tem apenas 20% da visão do olho direito. Ainda na infância, o menino, à época com seis anos, se queixou de uma irritação no olho após um dia de piscina. Para tratar do incômodo, sua mãe queria pingar água boricada no local, mas acabou se confundindo e pingou amônia por engano. Com o incidente, o garoto perdeu boa parte da visão e, por isso, precisou fazer um tratamento.

Já com 7 anos, a intervenção médica foi responsável por recuperar boa parte da visão de Icaro, cerca de 90%. Foi nesse tempo que o tae kwon do entrou em sua vida e a mudou completamente. Porém, anos depois, quando já era um atleta de alto rendimento, sua condição acabou piorando gradativamente. Com certa dificuldade em conectar golpes e manter o nível de desempenho, o rapaz passou a se dedicar cada vez mais para que pudesse continuar com seus bons resultados.

Foi a partir deste momento que o amor do casal pôde influenciar diretamente no processo de readaptação do lutador, pois foi com Raiany que ele passou horas a fio buscando evolução. “Quando começou a piorar a visão do Icaro, ele tinha que fazer algo para que isso não afetasse na luta. Resolvemos fazer treinos a parte, e eu, como namorada, me coloquei à disposição para ajudá-lo. Foram meses de treinos, e isso para mim era tranquilo, porque sabia que uma hora ele iria melhorar. E foi o que aconteceu”, disse a lutadora nascida em Belo Horizonte. “Acredito que nosso sentimento o ajudou a superar esse obstáculo, pois sempre queremos o melhor um para o outro. Sempre nos ajudamos em qualquer área de nossas vidas”, completou.
<i>(Foto: Arquivo pessoal)</i>

A participação da namorada neste processo foi fundamental. Junto com os outros atletas da academia, o casal treinava em dois períodos, manhã e tarde. Mas a busca pelo sonho de continuar lutando fez com que Icaro treinasse também no turno da noite, acompanhado, é claro, da parceira Raiany. Além do tempo e esforço que ambos aplicaram, a perseverança foi o golpe principal para vencerem esta batalha.

“Eu nunca encarei realmente como um problema. Se eu tinha alguma dificuldade, por exemplo, de defesa do lado que eu não enxergo, eu não encarava aquilo como uma deficiência, encarava como um erro de parte técnica. Então eu treinava a defesa um pouco mais do lado que eu não enxergo”, revelou Icaro.

Com comprometimento nos treinamentos e a ajuda que um tem dado ou outro, o casal vem de bons resultados. Raiany foi campeã dos Abertos da Colômbia, Argentina e Costa Rica, e ouro no Mundial Militar. Em Lima, foi medalhista de bronze na categoria até 67kg. Além da segunda colocação no Pan, Icaro foi vice-campeão do Aberto da República Dominicana, terceiro colocado do Aberto da Bélgica, campeão do Multi European Games, disputado na Bulgária, medalha de ouro no Aberto da Espanha e prata no Campeonato Mundial, em Manchester, na Inglaterra.

As boas lutas do mineiro mostram seu talento e deixam claro que sua deficiência não é empecilho. “A sensação que tenho é que eu sempre tive condições de bater de frente com qualquer atleta do mundo, e venho mostrando que realmente tenho essa condição”, disse.

Um desejo dos dois é servir de exemplo para meninas e meninos que querem, através do esporte, mudar de vida. “Acredito que as crianças se espelham muito em nós, atletas. Quando ganhamos uma medalha tão importante, acredito que elas têm o desejo de ter uma também. Essa era a minha vontade quando via alguns atletas em grandes competições”, contou Raiany. “Nós, medalhistas em grandes eventos, temos uma influência significativa. Temos o poder e o dever de mudar muitas vidas através disso, então eu acho que é nossa obrigação tentar fazer algo”, completou o namorado.

Agora, a chave muda para ambos. A euforia dos últimos feitos é substituída pelo foco total nos treinamentos. O objetivo dos atletas passa a ser os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. As competições do segundo semestre deste ano darão pontuação para o ranking mundial e olímpico. Somando novos bons resultados aos já obtidos, o casal busca subir ao pódio novamente mas, desta vez, no Japão.

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