UM MOMENTO NA HISTÓRIA

Festa do milésimo gol de Pelé no Mineirão teve coroação e expulsão do Rei aos 23 minutos

Gol 1.000 de Pelé, marcado no Maracanã em 19 de novembro de 1969, completa 50 anos nesta terça-feira. Rei foi homenageado no jogo seguinte, no Mineirão, mas acabou expulso

postado em 19/11/2019 07:00 / atualizado em 18/11/2019 21:37

(Foto: Indalecio Wanderley/O Cruzeiro/EM/D.A Press)
Em quase sete décadas, o Maracanã registrou momentos marcantes, mas raros têm o peso histórico daquela bola ajeitada na marca da cal aos 32min do segundo tempo da partida entre Santos e Vasco na noite de 19 de novembro de 1969 – há exatos 50 anos. Passava das 23h, quando Pelé foi derrubado pelo zagueiro Renê. Uma confusão de cruz-maltinos se formou em torno do árbitro Manoel Amaro de Lima, enquanto a torcida no Maracanã gritava “Pelé, Pelé”. O Rei do Futebol, então com 29 anos, pegou a bola, deu um abraço no goleiro argentino Edgardo Andrada (falecido há três meses) e postou-se de mãos na cintura a 11 metros da linha do gol e de um batalhão de fotógrafos e jornalistas que ansiavam pela oportunidade de ver a história diante dos próprios olhos.

Friamente, Pelé fitou o gol, deu um, dois, três passos andando, tomou velocidade, fincou o pé direito no gramado, tomou força com o esquerdo e, quase parado, chutou com a direita no canto esquerdo de Andrada, que se esticou todo, mas não chegou na bola. O Rei foi em busca da pelota no fundo das redes, quando acabou engolido por um mar de gente, até ressurgir nas costas de um repórter com a bola erguida nas mãos. Na sequência, foi saudado, vestiu uma camisa do Vasco com número 1.000 nas costas (presente do clube carioca), deu volta olímpica e pronunciou a célebre frase: “Pensem no Natal, pensem nas criancinhas.”

“O gol poderia ter saído na Paraíba, quando ele fez o 999 contra o Botafogo-PB e acabou virando goleiro, ou contra o Bahia, na Fonte Nova, mas tudo deu certo para que o gol saísse no Maracanã”, lembra-se Jair Bala, então com 25 anos, que havia chegado ao Santos naquele ano para disputar vaga em um ataque que tinha craques como Edu, Manoel Maria, Abel, além do maior do maior ídolo da história do clube.

“Fomos jogar em Pernambuco, contra o Santa Cruz, e o Botafogo da Paraíba nos convidou para um amistoso, já pensando no gol mil do Pelé. Ele fez um, de pênalti, mas logo depois nosso goleiro caiu no chão e o Pelé foi para o gol. Aí fomos para a Bahia, jogar na Fonte Nova, e o Pelé quase fez um gol, mas o zagueiro tirou em cima da linha. A própria torcida do Bahia ficou na bronca e começou a vaiar. Tanto que o jogo ficou 1 a 1, com um gol meu”, recorda Jair Bala.

FESTA FRUSTRADA NO MINEIRÃO

A festa no Maracanã foi completa e as honrarias ao Rei continuaram quatro dias depois, no Mineirão, palco de Atlético e Santos pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, a Taça de Prata. Em 23 de novembro de 1969, a festa estava armada: o Rei foi recebido por autoridades, crianças e índios, deixou a marca do pé direito no cimento e foi homenageado com uma placa de bronze com a frase “ofereço estes mil gols às crianças pobres do Brasil”, dita após o feito. A marca dos pés de Pelé está exposta no Museu Brasileiro do Futebol, no Mineirão.



Antes da partida, Pelé chorou abraçado pelos parentes que vieram de Três Corações. O Estado de Minas levou o avô, Jorge Lino, ex-carroceiro na cidade do Sul de Minas, para um encontro surpresa com o neto ilustre. Carregado no gramado, Pelé recebeu uma coroa simbólica de Rei do Futebol.

(Foto: Museu Brasileiro do Futebol)


Em campo, no entanto, a festa durou apenas 23 minutos: após uma dividida de bola com o goleiro Careca, o camisa 10 foi expulso pelo árbitro Amílcar Ferreira – expulsão que irritou os jogadores do Santos e, principalmente, a torcida. O Galo acabou vencendo por 2 a 0, gols de Lola e Dario.

(Foto: Museu Brasileiro do Futebol)


Entre 1966 e 1974, Pelé jogou 17 vezes no Mineirão, conquistando sete vitórias, dois empates e oito derrotas. Nascido em Três Corações, o Rei do Futebol balançou as redes do principal estádio de seu estado natal cinco vezes, sendo duas vezes pela Seleção Brasileira.

OS GOLS

1 - 7/9/1956  - Santos 7 x 1 Corinthians de Santo André  - Américo Guazeli (Santo André-SP)
100  - 27/7/1958  - Botafogo-SP 2 x 2 Santos  - Vila Tibério (Ribeirão Preto-SP)
200  - 6/6/1959  - Fortuna 4 x 6  - Rheinstadium (Dusseldorf-ALE)
500  - 5/9/1962  - Santos 5 X 2 Botafogo-SP  - Vila Belmiro (Santos-SP)
999  - 14/11/1969  - Botafogo-PB 0 x 3 Santos  - Olímpico (João Pessoa-PB)
1000  - 19/11/1969  - Vasco 1 x 2 Santos  - Maracanã (Rio)

FICHAS TÉCNICAS

VASCO 1 x 2 SANTOS

Vasco
Andrada, Fidélis, Moacir, Renê, Eberval, Fernando, Buglê, Benetti, Acelino (Raimundinho), Adílson, Danilo Menezes (Silvinho)
Técnico: Célio De Souza

Santos
Agnaldo; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Edu, Pelé (Jair Bala) e Abel
Técnico: Antoninho

Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro
Data: 19/11/1969
Gols: Benetti 17 do 1º; Renê (contra) 10 e Pelé 32 do 2º
Árbitro: Manoel Amaro de Lima
Público: 65.157

ATLÉTICO 2 X 0 SANTOS 

Atlético
Careca; Humberto Monteiro, Grapete, Vânder e Cincunegui; Vanderlei Paiva e Amauri Horta; Vaguinho, Dario, Lola (Beto) e Tião
Técnico: Yustrich

Santos
Agnaldo; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Jair Bala (Luis Carlos), Pelé e Abel.
Técnico: Antoninho

Estádio: Mineirão
Data: 23/11/1969
Gols: Lola 1 e Dario 38 do 1º
Árbitro: Amílcar Ferreira
Público: 49.806

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