Futebol Nacional

FUTEBOL NACIONAL

Com fracasso da Primeira Liga, clubes das Séries A e B articulam criação de associação

Flamengo e Corinthians lideram movimento e têm apoio do Cruzeiro

postado em 04/07/2018 08:00 / atualizado em 04/07/2018 13:41

Lúcio Bernardo Jr / Câmara dos Deputados
Formada por 19 clubes de oito estados, a Primeira Liga foi criada em 2015 para organizar um torneio paralelo ao calendário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e tentar, num segundo momento, tornar-se uma associação com prestígio para defender os interesses políticos e econômicos dos seus integrantes. A Copa foi realizada apenas nos anos de 2016 e 2017, e acabou cancelada em 2018 por falta de datas. Como entidade de classe, o projeto fracassou. Clubes paulistas, por exemplo, não aderiram. Do Rio, apenas Flamengo e Fluminense. Agora, clubes das Séries A e B se articulam com políticos em Brasília para desenvolver uma nova associação. Os cabeças desse movimento são os presidentes do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e do Corinthians, Andrés Sanchez, que também é deputado federal por São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Os dirigentes dos principais clubes brasileiros já foram convocados para duas reuniões, uma no fim de junho, na sede do Flamengo, no Rio de Janeiro, e outra nessa terça-feira, na Câmara dos Deputados, que teve o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) como organizador dos trabalhos. Cândido acumula o cargo político com a função de diretor de relações institucionais e internacionais do Corinthians. Recentemente, deixou de ser diretor de assuntos internacionais da CBF**. Na pauta não estavam melhorias do calendário do futebol nacional. Os assuntos foram projetos de legalização de bingos em estádios, redução de encargos tributários, participação na recém-criada raspadinha Lotex e vendas dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para o exterior, como o mercado chinês.

Além dos mandatários de Flamengo e Corinthians, estavam presentes representantes de Cruzeiro (presidente Wagner Pires de Sá e diretor jurídico Fabiano de Oliveira Costa), Atlético-PR (Mario Celso Petraglia), Internacional, Coritiba, Figueirense, Avaí, Juventude e Vila Nova-GO.

Integrante do grupo com mais ‘estrada’ no futebol, Mario Celso Petraglia, ex-presidente do Atlético-PR e hoje à frente do conselho do clube, disse que, após o insucesso da Primeira Liga, cabe a esse novo movimento salvar o futebol brasileiro do atraso. Em áudio da reunião obtido com exclusividade pelo Superesportes, ele exalta a força política de Flamengo e Corinthians. “Recentemente, tivemos uma tentativa frustrada da Primeira Liga, que não fomos capazes de dar continuidade, e acho que é o momento de Flamengo ou Corinthians, não importa a ordem, de liderar esse movimento”.

”É momento de dar um passo inicial dessa nova caminhada, é a criação dessa entidade que no início não devemos pensar em calendário, televisão, todos esses itens estão sacramentados até 2022, 2024, já com contratos assinados. Mas temos uma pauta longa de interesse comum dos clubes, que uma instituição nos representaria politicamente, de forma que a gente tenha força”, acrescentou Petraglia.

Mais à frente, o dirigente do Atlético-PR chegou a falar que essa articulação é sua última tentativa de dar jeito no futebol brasileiro. “Tenho (mandato) ainda em 2018, 2019, compromisso com meu clube. Se nós não caminharmos, vou dar por encerrada a minha participação e vou jogar a toalha, porque se não fizemos algo que deve ser feito, neste momento, quando o mundo se organiza, teremos aí a Copa do Mundo dos clubes em 2021, que a Fifa está organizando, e ficaremos cada vez mais distantes em relação ao resto do mundo do futebol. Nós somos o único país como o maior número de habitantes que tem no futebol o seu primeiro esporte, somos o maior formador de atletas para esse esporte no mundo, e estamos numa situação lamentável de organização, tudo isso que a gente conhece. Minha sugestão é que a gente dê ênfase, trabalhe, profissionalize essa instituição que nos represente para que tenhamos força para caminhar”, concluiu o homem forte do Furacão.

Mas o que se viu na reunião foi um completo despreparo dos presentes em relação a assuntos básicos da vida dos clubes. Ao discutir, por exemplo, a tentativa de comercializar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para grupos estrangeiros, dirigentes não sabiam sequer se têm direito a isso, por conta dos acordos firmados no Brasil com a Rede Globo. 

No encontro dessa terça-feira, no Congresso, o único avanço em relação à primeira reunião, no Rio de Janeiro, foi a criação de comissões para discutir assuntos específicos. O diretor jurídico do Cruzeiro, Fabiano de Oliveira Costa, se ofereceu para ajudar na formatação jurídica da associação. 

Ao tomar a palavra, Andrés Sanchez, do Corinthians, pediu urgência na criação dessa “associação de classe”. “Temos que fazer urgentemente, até o jurídico aí, Cruzeiro e Coritiba, agilizar isso. Se tiver que pegar alguma coisa com o presidente Petraglia, algum estudo, para a gente fazer essa associação da Série A, regularizar, fazer a associação da Série B, porque aí as coisas vão andando muito mais rápido e fica muito mais fácil de se fazer”, disse.

A comissão se reunirá em Brasília sempre na primeira terça-feira de cada mês. O próximo encontro será no dia 7 de agosto. 

COMISSÕES E PAUTAS DA NOVA ASSOCIAÇÃO:

Bingos nos estádios – Flamengo, Atlético-PR, Cruzeiro
Tecnologia – Flamengo, Atlético-PR, Cruzeiro, Coritiba, Corinthians
Vendas de direitos e internacionalização das marcas – todos os convocados
Criação da Associação, questões jurídicas – Corinthians, Cruzeiro, Coritiba

QUAIS SÃO OS INTEGRANTES DA PRIMEIRA LIGA
Entidade não organizou torneio em 2018, mas não foi extinta oficialmente

Minas Gerais – América, Atlético, Cruzeiro, Tupi
Rio Grande do Sul – Grêmio, Internacional, Brasil de Pelotas
Paraná* – Londrina e Paraná
Rio de Janeiro – Flamengo, Fluminense
Santa Catarina – Avaí, Figueirense, Joinville, Criciúma, Chapecoense
Ceará – Ceará
Goiás – Atlético-GO
Mato Grosso – Luverdense

*Atlético Paranaense e Coritiba deixaram a Primeira Liga em novembro de 2016 por divergências em relação à venda dos direitos de transmissão para a Rede Globo

**Informação corrigida às 13h39. Anteriormente, lia-se nesta matéria que Vicente Cândido ainda acumulava os cargos de deputado e dirigente de Corinthians e CBF. Ele já deixou a função na CBF.

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