CLUBES DA ESQUINA

Heróis anônimos na capital dos campeões

Os desafios enfrentados por cerca de 4,5 mil jogadores em 113 campos de BH são mostrados de hoje a sexta-feira em série do EM sobre o futebol amador

postado em 07/12/2014 09:00 / atualizado em 07/12/2014 09:23

Renan Damasceno / Estado de Minas

Beto Novaes/EM/D.A Press


A cidade dos atuais campeões do Brasileiro (Cruzeiro) e da Copa do Brasil (Atlético) também é berço de outras 546 equipes de futebol - 234 delas em atividade -, que, longe do glamour e do alto investimento, sobrevivem graças ao esforço de diretores, jogadores e do apoio da comunidade. Apesar de esquecidos pelo poder público e espremidos pela especulação imobiliária, clubes amadores ainda movimentam os bairros de Belo Horizonte, especialmente à noite ou nos fins de semana, seja pelo Campeonato Mineiro (primeiro semestre), Copa Centenário (segundo) ou Copa Itatiaia (a partir do dia 14), que formam uma espécie de tríplice coroa da várzea.

Em vez do tapete verde, são 113 campos de terra, areia, saibro, areia com saibro ou grama sintética espalhados pela cidade. Pisos irregulares, esburacados e cheios de poças d’água - adversários extras para os cerca de 4,5 mil atletas registrados pelo Setor de Futebol Amador da Capital. Atletas que não encontraram espaço no profissional e dividem o futebol com rotinas pesadas de trabalho.

Ao longo das décadas, os campos de terra batida forneceram craques para os principais clubes de BH e até para a Seleção Brasileira: Toninho Cerezo começou no Ferroviário, do Horto; João Leite calçou as luvas primeiro para defender a meta do Alvorada, da Nova Gameleira; Paulo Isidoro iniciou a carreira no extinto Ideal, do Bairro da Graça; o ex-treinador Carlos Alberto Silva conheceu os segredos do futebol à beira do campo no Nacional do Carmo; e a cinco vezes melhor do mundo Marta foi convocada pela primeira vez quando defendia o Santa Cruz.
Edesio Ferreira/EM/D.A Press


A várzea é um manancial de contos e casos, que apesar das dificuldades sobrevive com bom humor e paixão. É quase um ritual universal: em qualquer campo, em um domingo de manhã, são disputados jogos em sequência, do mirim ao adulto, seguidos da resenha, com cerveja e tira-gosto. “Só paixão explica a gente continuar dando murro em ponta de faca, acordando cedo, tirando dinheiro do próprio bolso, sem apoio”, explica Nildo André, presidente do Cachoeirinha, enquanto ajeita a cal para fazer a marcação do campo de terra. “Muita gente não entende por que continuamos. Se a mulher da gente descobre que tiramos dinheiro do próprio bolso para o time, fica uma fera”, explica Mauro Mansur, vice-presidente do Ferroviário, um dos clubes mais antigo da capital, fundado em 1928, ajeitando os uniformes sujos de terra para lavá-los numa máquina comprada em prestações a perder de vista.

O Estado de Minas apresenta a partir deste domingo o especial Clubes da Esquina, com a história e as estórias do futebol amador de BH. Paixões centenárias que lutam para sobreviver e continuar construindo um dos maiores patrimônios da capital.

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