Copa do Mundo

COPA 2018

Contra o assédio e para se ajudar, mais de 40 brasileiras se juntaram para ver a Copa

Mulheres de diversas partes do Brasil se juntam na Rússia em grupo de cooperação

postado em 20/06/2018 07:00 / atualizado em 20/06/2018 12:36

Renan Damasceno/EM/D. A Press


Enviado especial a São Petersburgo

São Petersburgo – A imagem do brasileiro, de um povo cordial, amigável e festivo, especialmente em Copas do Mundo, ficou arranhada com as imagens dos torcedores assediando uma estrangeira em vídeo que ganhou repercussão mundial. Entre a torcida brasileira que está na Rússia, assim como no Brasil, o discurso foi de repúdio ao grupo, que gravou um vídeo cantando e pedindo para que a mulher falasse palavras obscenas. Três deles já foram identificados.

Renan Damasceno/EM/D. A Press

“É uma vergonha, mas não é nem um pouco diferente do que os brasileiros já fazem no Brasil. Eles estavam se aproveitando de uma falta de conhecimento dela para fazer aquilo muito maior”, disse a paulista Beatriz Corrêa, que está em São Petersburgo para assistir à partida entre Brasil e Costa Rica, sexta-feira, às 9h, pela segunda rodada do Grupo E. “O lado bom é que viralizou de uma forma bem negativa e está todo mundo caçando eles. Já acharam a história, para acabar com a festa deles que eu acho ótimo também.”

O vídeo machista ocorre justamente em uma Copa do Mundo que as mulheres brasileiras viajaram em bom número para a Rússia, muitas sozinhas, batendo de frente com um meio ainda muito masculino. Um dos grupos mais atuantes é o Elas na Copa, que surgiu pela necessidade das mulheres se unirem para se ajudar durante o Mundial. Muitas delas participavam de outros grupos de Whatsapp mas, com a proximidade da competição e pelas dificuldades na Rússia, decidiram se unir. Hoje, são pouco mais de 40 mulheres, de diversas partes do país.

Renan Damasceno/EM/D. A Press

”Era um grupo com homens e mulheres e sentimos necessidade de falar a mesma língua e sem ser discriminada, de acharem que a gente não sabe de futebol ou fazer alguma gracinha, alguma piadinha”, conta a carioca Danielle Lyrio. “No fim, ficamos amigas e já rolou encontro. Tem meninas de Manaus, Belém, Rio, São Paulo, Brasília e ficamos amigas. Passamos a dividir apartamentos, hospedagens, tem gente que mudou roteiro para meninas do grupo”.

A paulista Karla Miranda viajaria com o irmão, que teve que mudar os planos. Foi quando conheceu o grupo. “Nunca foi problema para viajar sozinha, mas na Rússia precisaria de um apoio. Hoje, somos mais de 40. Isso me deu forças, porque em alguns momentos fiquei em dúvidas. E esse grupo de mulheres me deu muita força”, conta. “O Brasil é um país machista, então fiquei meio receosa de ter que me juntar com homens, por conta do machismo dos brasileiros também. Aí quando surgiu, fiquei muito feliz, o grupo começou a crescer, ficamos muito amigas”.

Renan Damasceno/EM/D. A Press

Mariana Neme, de Brasília, lembra da reação quando viu o vídeo. “Quando vi, fiquei pasma, como éramos minoria em vários grupos da Copa, ninguém teve coragem de repudiar. Eu fui a primeira a pedir respeito e a maioria dos meninos também nos apoiaram, achando um absurdo as palavras usadas com a menina. Consideramos um desrespeito”, disse. “Estamos no país deles, sendo bem recebidos e aprontam isso. Não acho que as mulheres sejam indefesas, mas merecem respeito, assim como outras nacionalidades, credos...”

TORCEDORES IDENTIFICADOS

No vídeo que viralizou na internet, turistas brasileiros que foram à Rússia para acompanhar a Copa do Mundo assediam uma pessoa que não fala português. Os homens cantam música em alusão à cor do órgão sexual da mulher, que aparece nas filmagens sem entender bem o que estava ocorrendo.

Três já foram identificados. Um deles é o tenente Eduardo Neves, que serve em Lages, região serrana de Santa Catarina. A identidade foi confirmada pela Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC). Em nota, a PMSC informou que “abrirá um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta irregular do militar”, que está de férias na Rússia. Em rede social da corporação, usuários cobram punição ao policial.

Além de Eduardo Neves, outros dois brasileiros envolvidos no caso tiveram identidades delatadas graças às redes sociais. Um é o advogado Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se posicionou contra a atitude. O advogado, que exerceu o cargo durante a gestão do prefeito Pedro Serafim (PDT), já foi, inclusive, condenado pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), em 2015 por discumprir a Lei de Licitações.

O terceiro é o empresário Luciano Gil Mendes Coelho. Ele já foi preso em uma operação da Polícia Federal que desarticulou esquema de desvio de dinheiro público. A fraude ocorreu em licitações da prefeitura de Araripina, em Pernambuco, no ano de 2015, quando Luciano ocupou cargo de inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí (CREA-PI).

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