Copa do Mundo

CROÁCIA

Na Copa, seleção de futebol tenta dar à Croácia mais um feito no esporte

Basquete, tênis, pólo aquático e futebol já fizeram país se orgulhar

postado em 14/07/2018 08:00 / atualizado em 13/07/2018 20:47

AFP / Odd ANDERSEN


Enviado especial a Moscou

Para entender a importância do orgulho nacional como combustível extra para a Seleção da Croácia, finalista da Copa do Mundo, basta recorrer a uma das primeiras respostas do volante Ivan Rakitic na coletiva de imprensa, no Luzhniki, em Moscou: “Seremos quase 5 milhões de jogadores em campo”, disse o atleta do Barcelona ao responder sobre a motivação para superar o cansaço de três prorrogações antes de enfrentar a França neste domingo, às 12h (de Brasília), na capital russa. “Temos orgulho de sermos croatas. Não tem como descrever: a união, o orgulho é incrível e penso que aproveitamos isso”.

A Croácia tem cerca de 4,5 milhões de habitantes e apenas 27 anos de existência como república independente, desde a secessão do país da antiga Iugoslávia, em 1991. Ao longo dos séculos, esteve no epicentro de uma das regiões mais instáveis do planeta, com centenas de milhares de mortos em guerras civis. Desde a Segunda Guerra Mundial, viu acirrar a disputa local com os vizinhos sérvios. Com a invasão nazista na Iugoslávia, apoiou a Alemanha com o governo de extrema-direita de Ante Pavelic, líder da Ustase. Depois, com a derrota de Hitler, o país foi perseguido pelas tropas socialistas de Tito – de onde vem a forte relação entre russos e sérvios.

Este caldeirão multiétnico foi fervendo e entornando ao longo desta Copa do Mundo. Ao passo que o time avançava dentro das quatro linhas, polêmicas dividiam as opiniões sobre a postura dos croatas. Primeiro, o zagueiro Lovren divulgou vídeo com jogadores cantando uma música que “pede desculpas” pelo regime fascista croata. Depois, o zagueiro Vida se envolveu em polêmica ao proclamar “Glória à Ucrânia”, que se tornou rival do Kremlin desde a anexação da Crimeia pelos russos. Depois de ser vaiado na semifinal, pediu desculpas ao povo russo.

Ao ser questionado sobre as atitudes, Rakitic preferiu jogar o foco para dentro de campo. “Eu entendo o trabalho de vocês (jornalistas), mas isso não importa agora. Nós estamos aqui, conseguimos grandes sucessos dentro de campo, isso que precisamos falar”, disse.

NOVA HISTÓRIA

A rivalidade entre Croácia e Sérvia ganhou projeção no esporte na década de 1990. Jogadores dos dois países formavam a base da Seleção Iugoslava da Basquete, campeã mundial em 1990, sobre a União Soviética. Com a separação, da noite para o dia, jogadores que antes eram amigos, viraram rivais. O caso mais emblemático é a briga entre o sérvio Vlade Divac e o croata Drazen Petrovic, que morreu em 1993, irmão mais novo de Aleksandar Petrovic, atual técnico da Seleção Brasileira. 

“O sentimento nacional é muito forte na nossa região e o esporte é o lugar onde essa rivalidade se aflora”, conta o jornalista croata Srdan Fabijanavic. “Esse orgulho é uma das poucas explicações para que um país, sem estruturas esportivas, tenha ido tão longe no basquete, tênis, polo aquático e no futebol”, completa.

Anja Niedringhaus

Com apenas um ano de independência, a Croácia conquistou a prata no basquete em Barcelona’1992, perdendo apenas para o Dream Team, de Michael Jordan e Magic Jonhson. Seis anos mais tarde, foi terceiro colocado da Copa do Mundo’1998, perdendo justamente para a França, na semifinal. Em 2001, Goran Ivanisevic se tornou a maior zebra da história moderna dos Grand Slams de tênis ao vencer Wimbledon. No tênis, os croatas ainda venceram uma Copa Davis, foram vice em outra e conquistaram mais um Slam, com Marin Cilic, em 2014.

Agora, entre polêmicas, duas estrelas dos dois países têm a chance de mudar a história – ou, pelo menos, amenizá-la. Rakitic é amigo e admirador do sérvio Novak Djokovic, que surpreendeu ao declarar torcida pela Croácia na final. A atitude foi criticada por um deputado sérvio, que classificou Djoko como “um idiota”. 

Rakitic retribuiu. “Tiro o meu chapéu para ele. Também afirmo que vou torcer para ele estar na final de Wimbledon. As pessoas precisam entender que somos seres humanos. A história fica para trás.”

CONQUISTAS HISTÓRICAS

Barcelona’1992
No primeiro ano como república independente, a Croácia, que era base da forte Seleção Iugoslava de Basquete, foi finalista da Olimpíada de Barcelona, perdendo apenas para o Dream Team norte-americano. Naquele time jogavam Toni Kukoc e Drazen Petrovic, dois dos melhores jogadores europeus de todos os tempos.

França’1998
Na Copa do Mundo da França’1998, a Croácia conseguiu a melhor campanha de sua história no futebol, superado apenas pelos resultados na Rússia. Liderados por Davor Suker, terminaram em terceiro lugar, perdendo apenas para a campeão França na semi.

Wimbledon’2001
O título de Goran Ivanisevic é considerado, até hoje, uma das maiores zebras da história moderna dos Grand Slams. Em Wimbledon’2001, o croata era o 125 do mundo e se tornou o primeiro tenista convidado a conquistar um Grand Slam na história.

Copa Davis’2005
Quatro anos depois do feito de Ivanisevic, a Croácia conquistou o principal torneio de seleções do mundo, a Copa Davis. Liderados por Ivan Ljubicic, os croatas venceram a Eslováquia. Em 2016, em casa, a Croácia perdeu para a Argentina.

Londres’2012
Nos Jogos Olímpicos de Londres’2012, a Seleção Croata de Polo Aquático, um dos esportes mais populares do país, conquistou ouro inédito. A equipe ficou com a prata em Atlanta’1996 e no Rio’2016, perdendo a final para a arquirrival Croácia. 

US Open’2014
Em 2014, um croata voltou a surpreender no mundo do tênis. Marin Cilic foi de azarão a campeão do Aberto dos Estados Unidos, deixando Roger Federer pelo caminho. No ano passado, Cilic foi finalista em Wimbledon.

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