Antônio Melane - Estado de Minas
21/10/2010 20:20
22/10/2010 18:57
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Dondinho, pai de Pelé, foi jogador e vestiu a camisa do Atlético na década de 40 |
O futebol no município, depois de uma crise que envolveu o Atlético Clube Três Corações e a Associação e exigiu uma trégua de alguns anos, estava em alta. O médico Daniel de Almeida, que fez o parto de Pelé, reergueu o Atlético TC, contratando Pagão (goleiro), Zezinho, Dunga (um dos grandes amigos de Dondinho), Oscar Rosa, Zé da Bola e o então capitão Elói Menezes, que posteriormente, já com a patente de general, seria presidente do Conselho Nacional de Desportos (CND).
Victor Cunha, de 81 anos, cujo pai também foi presidente do clube, se lembra bem da equipe: "Olha, vencemos o Rio Vermelho por 6 a 1 e Dondinho fez cinco gols de cabeça. Falei com o Pelé e ele lembrou que nenhum jogador conseguiu esta façanha e faria um trabalho para pôr o feito no livro dos recordes." Sempre que tem oportunidade, o Rei destaca que não conseguiu igualar o feito do pai.
Era um timaço para o futebol do Sul de Minas. Cobiçado por vários clubes profissionais, Dondinho foi defender o Atlético, em Belo Horizonte. Atuava de armador, mais pelo lado esquerdo. Um craque sem sorte, que logo na estreia no alvinegro teve um choque com um zagueiro e machucou seriamente o joelho direito.
Com o fim do sonho de defender um time grande, passou a atuar em equipes da região, mudando-se com a família de acordo com as oportunidades. Passou por São Lourenço e foi parar em Bauru (SP), onde o Bauru Atlético Clube lhe prometeu um emprego público. Levou dona Celeste e os três filhos: Pelé (com 4 anos), Jair (o Zoca) e Maria Lúcia. Na casa de Três Corações, ficaram morando Jorge e a mulher, Jorgina.
A cidade do Sul de Minas tinha então 20 mil habitantes e a economia com base na agropecuária e no comércio. Sua feira de gado foi destaque no século 20. Levava à região compradores de quase todo o país. Graças a ela, Dom Pedro II inaugurou lá, em 1884, a estrada de ferro que levava a Cruzeiro (SP), um dos ramais da antiga ferrovia Minas-Rio. Também no local, em 1916, o Banco do Brasil inaugurou sua primeira agência no interior mineiro – 00012-4.
Cidadão do mundo
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Rua onde morou Pelé ganhou nome do eterno craque em Três Corações |
As pessoas reclamam que, mesmo tendo familiares em sua terra, principalmente primos, que constituem famílias humildes, e apesar do interesse da população em conviver com o conterrâneo mais ilustre, poucos tiveram oportunidade de pelo menos poder abraçar o Rei.
Alguns observam que é o preço a pagar por ser um cidadão do mundo. Outros apontam que ele deveria ter dado maior atenção aos amigos de infância e à projeção que seu nome deu a Três Corações.
Ao todo, foram apenas cinco viagens do mito à cidade, uma delas para inaugurar a praça com seu nome e sua estátua. Mas a visita que os mais antigos não esquecem foi em 1966, quando a Seleção Brasileira se preparava em Caxambu para a Copa da Inglaterra. Em uma das folgas, Pelé foi a Três Corações com o preparador físico Paulo Amaral e outro monstro do futebol: Garrincha. A cidade parou.
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