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Coutinho e Pelé: quase sinônimo de tabelinha, tamanho o entendimento da dupla, que beirava à perfeição no campo |
Antônio Wilson Honório estava na posição errada no dia certo. Em 1955, Coutinho foi escalado como zagueiro do Palmeirinhas de Piracicaba, na preliminar contra o XV, adversário do Santos na partida principal, pelo Campeonato Paulista. O menino de 12 anos fez o gol da vitória em meio aos gigantes. Foi a senha para a sua contratação imediata pelo então técnico Luís Alonso Péres, o Lula.
Cotinho, apelido de família, ganhou a letra U na alcunha. Virou Coutinho. Cresceu, amadureceu, comeu a bola e ganhou vaga no banco do Santos. De lá, aprendeu a enxergar o jogo e aprendeu muito com uma dupla que ele mesmo se encarregaria de desfazer. “O Pelé jogava com o Pagão, de quem fui um fã incondicional. Eu prestava atenção no jeito de jogar do Pagão, mas eu sentia que o Pelé ficava fixo na área e o Pagão saía muito para jogar”, lembra, em entrevista ao Estado de Minas.
A partir daí, Coutinho passou a cavar seu lugar no time. E não ao lado de qualquer um. A meta era jogar com um menino que se tornaria rei. “Quando eu entrava, o Pelé crescia, porque ele vinha de trás, ganhava espaço para jogar. Por outro lado, eu tinha problema com a balança. Então era mais fácil para mim jogar dentro da área, paradinho ali, e deixar o Pelé solto para jogar fora da área, como ele gostava. Então, o que aconteceu é que a minha entrada na equipe favoreceu o estilo dele. Sem falsa modéstia, éramos dois jogadores inteligentes: um completava o outro.”
Modéstia é palavra proibida no vocabulário de Coutinho. Autêntico nas declarações, o craque não deu meia-volta ao exaltar o dueto com Pelé: “Tínhamos um raciocínio rápido. Não foi uma dupla que não funcionou em um ou dois jogos, não; deu certo nos 16 anos em que jogamos juntos, seja no Santos, seja nas oportunidades em que formamos o ataque da Seleção Brasileira. A gente se dedicava, treinava; aí, não tinha para ninguém”, orgulha-se. “O Santos costumava treinar de noite, até as 21h. O Pelé fazia hora extra. Treinava até as 23h. Impressionante como era compenetrado”, lembra.
A maior lembrança de Coutinho, hoje com 67 anos, ao lado de Pelé é o golaço em Mão de Onça, do Juventus, na Rua Javari. Com o desaparecimento das imagens do lance, o cineasta Aníbal Massaini tentou reproduzir a obra-prima do Rei no filme Pelé Eterno. Mas, segundo quem deu o último toque para o camisa 10 antes do início da sequência de chapéus, não conseguiu. “Infelizmente, as imagens foram queimadas naquele incêndio que houve na TV Tupi. Só elas mostrariam de verdade como foi. Não adianta tentar simular como foi. O que eu sempre digo é o seguinte: o gol só foi lindo como aconteceu”, diverte-se.
CRISE O bom humor de Coutinho só se alterou ao falar de possível estremecimento no relacionamento com Pelé. Sincero, assume que realmente houve um problema, não quis revelar qual, mas garante: “Alguém, infelizmente, inventou coisas sobre nós, mas um dia nos encontramos para desfazer qualquer mal-entendido. Infelizmente, quem não convive conosco cria mentiras. Nem quero mais falar sobre isso. É passado. Nós nos perdoamos e isso faz parte do passado.”
Misterioso, Coutinho faz questão de demonstrar que a amizade com Pelé continua intacta. “Quando a gente se encontra, é uma alegria. Um dias desses, fui à casa dele para gravarmos um vídeo para uma TV. Os sarros, os sorrisos, o carinho, tudo continua como antigamente.”
Em 457 partidas pelo Santos, Coutinho marcou 370 gols.