Pelé já estava chegando perto de pendurar as chuteiras, em 1973. Mas ainda era Pelé. Todas as atenções estavam nele. O Santos continuava sendo considerado um dos maiores clubes do mundo. Trazia em sua equipe ainda Clodoaldo, Carlos Alberto, Edu, Hermes e Euzébio. Mas do outro lado estava o Santa Cruz. Uma das equipes mais fortes, na época, do futebol brasileiro. O Diario estampou na matéria do dia seguinte ao jogo que marcou o retorno coral ao Mundão do Arruda: "Santos assistiu à festa do Santa".
Uma narrativa emocionante e detalhista conta a história de um jogo que entrou para os anais do clube coral. Uma tarde onde brilhou a estrela do atacante Ramon, autor de dois dos três gols do Tricolor na vitória por 3 x 2. "Quem foi ver Pelé no Arruda acabou vibrando com Ramon" foi outra manchete da edição daquela segunda-feira, 8 de outubro.
"Foi uma tarde de domingo que entrou para a história mesmo. Não sai da minha memória. Estávamos enfrentando o Santos e com Pelé. Fizemos uma partida exemplar e o estádio quaseveio abaixo quando eu marquei o terceiro gol e abrimos 3 x 0", relembrou Ramon. Logo em seguida, o ex-atacante coral completou: "Em sete minutos eles fizeram dois gols, sendo um do 'Negão'. Se houvesse mais dez minutos de jogo eu acho que eles viravam", comentou sorrindo.
Causos fantásticos fizeram a história antes, durante e depois da partida. Um deles refere-se ao ex-presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Rubens Moreira. O cartola foi visitar o elenco do Santa Cruz na concentração. Ofereceu um bicho para cada jogador em caso de vitória mas fez um pedido: "Ele pediu para a gente não bater muito em Pelé. Não chegar duro demais, ter cuidado", afirmou Ramon. Afinal, não seria nada bom para o futebol pernambucano Pelé sair machucado do Arruda.
O ex-volante Givanildo ficou encarregado de marcar o Rei. E o "Topo Giggio", como era chamado na época deu a seguinte declaração ao Diario: "Ninguém marca o Rei. Ele é que às vezes não joga bem". Mas, naquele dia, Givanildo anulou Pelé. "Joguei bem mesmo e sem dar pancada, na bola, antecipando aos lances", afirmou Giva.
Mas o centro das atenções mesmo foi Ramon. Tanto que ao final do jogo, o próprio Pelé procurou o meia Gena, do Santa Cruz, seu amigo particular para saber mais sobre o centroavante que tinha detonado na partida. "Gena, esse centroavante é sempre assim ou foi só neste jogo?". Depois de colher as melhores referências Pelé indicou a contratação de Ramon. O dirigente santista Clayton Bittencourt procurou o presidente tricolor Gastão de Almeida e fez uma proposta oficial. "O Santa Cruz não quis me negociar", enfatiza Ramon.