Algumas vezes no futebol, o pedido da camisa é sinal de respeito, admiração. Em 17 de novembro de 1966, o Rei atendeu ao apelo de Gena, ex-lateral-direito do Náutico. Naquela noite, porém, caberia a Pelé o papel de fã. No dia em que o inesquecível time do hexa atropelou o Santos, dentro de São Paulo, Bita transformou o Rei em súdito. O Homem do Rifle, maior artilheiro da história do Náutico, marcou quatro gols na vitória incontestável por 5 x 3. Anos depois, o próprio Pelé admitiu ser aquele Náutico um dos melhores times que enfrentou na carreira.
Integrante da era dourada do Timbu, Gena relembra momentos peculiares daquela partida. Alguns, inusitados para o grande público. Como as cobranças do capitão Zito ao Rei. "Naquele dia, todos eles ficaram tontos. Apesar de Pelé ser a grande estrela, dentro de campo quem mandava no Santos era Zito. Ele deu muitos esporros no Rei", diz.
Vice-campeão na Taça Brasil do ano seguinte, o Náutico tinha de fato um dos melhores times do país. "Naquela época, o Náutico saía para jogar contra qualquer time de igual pra igual. Mas ganhar Santos realmente foi o ápice, ninguém acreditava, só nós jogadores mesmo", afirma Gena.
Apesar de ter perdido o jogo e de não ter marcado gol, Pelé deu trabalho aos defensores alvirrubros. O texto escrito pelo repórter Lenivaldo Aragão, enviado especial do Diario ao Pacaembu, comprova. "A atuação extraordinária de Pelé, que realizou uma das melhores partidas dos últimos tempos, principalmente na primeira fase, quando produziu jogadas fantásticas, procurando o caminho da vitória para sua equipe, valorizou o sucesso do Náutico no Pacaembu, numa jornada em que o futebol de Pernambuco foi colocado às alturas com a apresentação soberba de seu tricampeão e bicampeão do Norte".
Aquela foi a única derrota de Pelé para o Náutico. Depois de pendurar as chuteiras, Gena estendeu a amizade com o atleta do século. Em meio às gozações e à repercussão tomada por aquela partida, ele revela uma brincadeira do amigo. "Ele costuma dizer que ganhou da gente algumas vezes e só perdeu uma, mas que todo mundo só fala daquela derrota. " O título estampado no Diario resume a ópera: "Bita foi um flagelo para o Santos no Pacaembu. Quando o Náutico elevou o futebol de Pernambuco".