TIRO LIVRE

Cazares: interrogação ou exclamação?

'O equatoriano foi uma das missões que o técnico Levir Culpi abraçou quando retornou à Cidade do Galo'

postado em 23/11/2018 09:09

Leandro Couri/EM/D.A Press
Desde 2016 é assim. Torcedores e treinadores do Atlético, além dos cronistas esportivos, tentam definir o equatoriano Juan Cazares (foto). Ele já foi chamado de craque, de jogador vaga-lume (por brilhar e se apagar na mesma proporção) e até de enganador pelos críticos mais vorazes. Fato é que nas últimas três temporadas, o armador flutuou entre as exclamações pelas grandes atuações e as interrogações por problemas de disciplina e irregularidade em campo. Hoje, ele está na categoria reticências: em que você ainda espera alguma coisa do equatoriano, só não sabe bem o que é.

Cazares foi uma das missões que o técnico Levir Culpi abraçou quando retornou à Cidade do Galo, em 18 de outubro. Na época das vacas magras, quando amargava a sequência inicial de três jogos sem vitória, o treinador soltou uma frase que pode simbolizar bem a tese de como sabia que o sucesso de seu trabalho poderia passar pela estabilidade do armador em campo. “Ouvi isso de todos. Cazares tem qualidade técnica que poucos têm. Batedor de bola parada, ótimo passador, tem presença técnica refinada. Mas precisa traduzir isso em números. Nós, inclusive os técnicos, somos números. Quantos jogos ganhou? Quantos empatou? É isso o que vai te manter”, disse.

Cazares viveu uma de suas melhores fases nos primeiros meses de Galo, comandado por Diego Aguirre. Época de grandes assistências, gols, convocações para a Seleção Equatoriana. Até que episódios de indisciplina acenderam o sinal vermelho pela primeira vez. Alguns foram abafados pela diretoria atleticana. Outros, como o sumiço na volta de um dos compromissos pela equipe de seu país, acabaram se tornando públicos.

O ano de 2017 foi a mesma montanha-russa. De lances geniais, que empolgavam a torcida do Galo e levavam a especulações de interesses de clubes europeus no futebol dele, a apagões homéricos. Nesta temporada, por pouco o equatoriano não foi parar no futebol árabe, em negociação que acabou frustrada. Em campo, cada vez menos brilho. Com Thiago Larghi, Cazares pouco se destacou – foram apenas quatro gols e duas assistências.

Até que a volta de Levir reacendesse a luz no fim do túnel. Depois do puxão de orelhas inicial, o treinador partiu para o diálogo. Admitiu ter conversado com todos os jogadores e, em especial, com os gringos. Talvez Levir soubesse que o êxito de seu trabalho passaria por alguns pés fundamentais no grupo atleticano, e entre eles estavam os de Cazares.

Nessa jornada (ainda em curso, é importante destacar) de recuperação, o equatoriano chegou a ir para o banco de reservas. Entrou no decorrer dos jogos, até mostrar efetividade e comprometimento suficientes para ser alçado, novamente, à condição de titular. E ser decisivo, como em três das últimas quatro partidas da equipe.

Contra o Palmeiras, ele iniciou, com um toque de calcanhar para Fábio Santos, a jogada que terminou com aquele golaço de Elias, de fora da área. Diante do Bahia, balançou a rede em lance semelhante, também batendo de longe. No triunfo sobre o Internacional, na noite de quarta-feira, não só balançou a rede como deu passe para Terans consolidar a importante vitória, aos 47 do segundo tempo.

Que Cazares tem as ferramentas necessárias para se dar no bem futebol, isso é certo. Em seus melhores momentos, ele já provou do que é capaz. A rapidez de raciocínio, a qualidade nas assistências, a visão de jogo, a forma de bater na bola são virtudes que fazem desse equatoriano, de 26 anos um jogador com potencial acima da média. Mas, como Levir mesmo disse, é preciso transformar essa qualidade em produtividade.

Cazares tem mais dois jogos para colocar à prova seu talento. Decerto, é um dos jogadores essenciais para sedimentar a caminhada do Atlético rumo à Copa Libertadores – a fase pré está mais acessível, com o G-6, mas, matematicamente, é possível sonhar até com a vaga direta na fase de grupos, com a entrada do alvinegro no G-4. Apenas mais duas semanas de foco total na equipe. Pouco mais de 15 dias para deixar as interrogações de lado e justificar todas as exclamações em seu futebol.

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