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Pablo recorda momentos difíceis da carreira, passagem por Cruzeiro e renascimento no Coelho

Após ser alvo de desconfiança, volante agrade América por chance de reaparecer

postado em 11/12/2014 08:02 / atualizado em 11/12/2014 10:49

Rafael Arruda /Superesportes

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Do Cruzeiro vice-campeão brasileiro em 2010, Pablo era o menos conhecido. Mas foi titular sob o comando de Cuca. Na lateral esquerda ou no meio-campo, o jogador se mostrava disposto a ajudar. E manteve boa regularidade. No ano seguinte, porém, o então camisa 2 celeste passou a ser “bode expiatório” da eliminação na Copa Libertadores, contra o Once Caldas, na Arena do Jacaré (derrota por 2 a 0). Não teve o contrato renovado.

Pablo voltou ao Real Zaragoza (ESP), foi repassado ao Figueirense e depois ao Bahia. Sempre com ares de desconfiança por todos os lados, viveu dois anos terríveis. Porém, jamais perdeu as esperanças. O Tombense, clube administrado por Eduardo Uram, seu empresário, abriu as portas para a reviravolta. E o América consolidou o ressurgimento do versátil jogador.

O Coelho terminou a Série B com a terceira melhor campanha – 20 vitórias, 7 empates e 11 derrotas. Só não subiu em virtude da escalação irregular do lateral-esquerdo Eduardo. Perdeu seis pontos no STJD. Pablo jogou 36 dos 38 jogos. Fez um gol e deu sete assistências. Foi bancado por Moacir Júnior, o responsável por montar o elenco. E teve o merecido reconhecimento do pernambucano Givanildo Oliveira, que emplacou mais de 73% de aproveitamento e, mesmo com a punição, quase subiu à Série A.

Por tudo que apresentou na temporada 2014, o volante é digno de elogios. E a conhecida frase criada por um torcedor – “o América é grato àqueles que engrandecem seu pavilhão” – vira sentimento recíproco. Pablo cresceu, se fortaleceu e não escondeu sua gratidão ao clube alviverde.

“Sempre falo isso: sou muito grato ao América por ter confiado em mim, sabendo que vinha de equipe inferior, que é o Tombense. Também sou grato ao Moacir Júnior, que me trouxe, e ao Givanildo Oliveira, que continuou acreditando no meu trabalho. Agradeço a todos por tudo que aconteceu na minha vida em 2014”, afirma, em entrevista exclusiva ao Superesportes.

Quanto ao futuro, Pablo ainda não sabe. Está em aberto. “Tenho o sonho de voltar a jogar a Série A, mas se o desafio for ficar aqui, por que não?”, diz o atleta, bastante articulado e consciente nas palavras.

Leia a entrevista completa com o volante Pablo

Você teve boa regularidade em 2014. Desde que chegou ao América, só ficou fora de duas partidas (disputou 39), e mesmo assim por conta de uma contusão no cotovelo. Ou seja, nada a ver com problemas musculares. Dos que vieram do Tombense, somente o Pablo se firmou – André começou como titular, mas perdeu posição. Júnior Negão sempre foi reserva de Obina. Como avalia a sua temporada pelo Coelho?


Divulgação/Zaragoza
Como você mesmo disse, graças a Deus foi um ano maravilhoso para mim. Não vou falar que foi o melhor, porque tive uma passagem muito boa no Cruzeiro. Na Espanha também (Real Zaragoza) e no Vasco. Mas foi a temporada na qual eu mais joguei. De 38 jogos na Série B, joguei 36. E graças a Deus não fui suspenso, não me lesionei gravemente. Foi apenas uma fatalidade no cotovelo. E fui muito feliz. Ajudei em várias funções. Contra o Sampaio Corrêa (última rodada do returno da Série B – vitória por 4 a 0), por exemplo, terminei a partida na lateral esquerda, que é a posição na qual comecei no Vasco. Fui muito feliz no América. Não sei o que acontecerá em 2015, ainda estou resolvendo algumas coisas. Mas a minha temporada 2014 pelo América foi maravilhosa. E eu sempre falo isso: sou muito grato ao América por ter confiado em mim, sabendo que vinha de equipe inferior, que é o Tombense. Também sou grato ao Moacir Júnior, que me trouxe, e ao Givanildo Oliveira, que continuou acreditando no meu trabalho. Agradeço a todos por tudo que aconteceu na minha vida em 2014.

Antes de disputar a Série B pelo América, você foi bem no Mineiro vestindo a camisa do Tombense. Nos anos anteriores, entretanto, a história foi complicada. Sua passagem pelo CT Lanna Drumond foi um recomeço?


Quando me apresentei, disse que o América abria uma porta que muitos clubes não quiseram. Através do Moacir Júnior, o time resolveu me dar a chance de voltar à elite do futebol. Mesmo com 26 anos, passei por vários clubes. E nos dois últimos anos (2012 e 2013, andei um pouco afastado. Até disse na minha primeira entrevista que foram os piores anos da minha vida. Mas graças a Deus dei a volta por cima. O América me deu a chance, e eu sempre confiei em Deus e no meu trabalho. Não sabia que terminaríamos assim, conquistando o acesso dentro de campo (o time não subiu em virtude da perda de 6 pontos no STJD). Mas não foi uma surpresa o meu desempenho. Sabia das minhas condições.

Antes do Campeonato Mineiro, perguntei a um diretor do América se você seria contratado, pois o clube buscava um lateral-direito. Ele foi taxativo e disse que você disputaria o Campeonato Mineiro pelo Tombense. Três meses depois, o Pablo foi apresentado como reforço do América...

Eu sabia que não estavam muito a fim de contar comigo antes do Mineiro. Justamente por conta dessa desconfiança. Mas o pessoal de Belo Horizonte sabe que tive uma boa passagem pelo Cruzeiro, que acabou prejudicada por um ou dois jogos em que fui mal na Libertadores. Mas antes disso, no Campeonato Mineiro, havia sido o atleta que mais atuou pelo clube. Na Libertadores joguei todos os jogos também. Tive um bom ano no Cruzeiro, mas algumas pessoas duvidaram pelo fato de meus anos posteriores terem sido ruins. Fiquei chateado quando cheguei ao América e soube dessa desconfiança. Mas não guardo mágoa. Gosto é de entrar, treinar e jogar. Mostrar à pessoa que estava errada. E fiz isso neste ano.

Você citou a passagem pelo Cruzeiro. No Brasileiro de 2010 (A Raposa foi vice-campeã), sob o comando do Cuca, era titular absoluto. Mas acabou marcado pela derrota na Libertadores de 2011, contra o Once Caldas, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Saiu como bode expiatório para a torcida?


Não tinha nome. Dos titulares, era o menos conhecido. Sabia que tudo isso poderia cair sobre mim como caiu. Mas não desanimei. Fiquei triste, é claro. Mas se pegar todos os jogos que fiz no Cruzeiro, todos vão lembrar desse jogo (contra o Once Caldas). Mas igual você falou: joguei muitas partidas no returno de 2010. E fiz bons jogos. Então a gente fica triste, pois torcedor e parte da diretoria se agarram a um jogo só.

AFP PHOTO/EMMANUEL PINHEIRO


É aquela situação do ‘goleiro que defende bem o jogo todo e acaba falhando no fim’?

Exatamente. É verdade. Uma vez me perguntaram fora do ar o que eu achava da minha passagem pelo Cruzeiro. Hoje acho que foi muito boa. Mas fiz um jogo ruim, onde estava voltando de lesão, e até por falta de experiência ou medo de perder posição, fui para o jogo no sacrifício. Mas não me sentia bem. Enfim, não acredito que minha passagem pelo Cruzeiro foi ruim. Só olhar quantos jogos eu joguei (foram 35 partidas). Numa equipe do tamanho do Cruzeiro não é fácil jogar tantos jogos assim.

O reflexo ruim da saída do Cruzeiro interferiu nas passagens por Figueirense e Bahia?

Quando cheguei ao Figueirense no meio de 2011 depois de sair do Cruzeiro, já estava no returno do Brasileiro. E o Figueirense foi muito bem (terminou em sétimo, com 58 pontos, a dois da quinta vaga na Copa Libertadores). O time já estava fechado. O lateral-direito era o Bruno, que hoje está no Fluminense. Entrei em poucos jogos. Estava tranquilo. No ano seguinte, quando jogamos o Catarinense, fui o que mais entrou em campo e acabei eleito o segundo melhor lateral do campeonato. Até aí tudo bem. Mas quando estava acabando o Catarinense, perdemos um jogo da final para o Avaí, por 3 a 0. E aí deu problema. O Eduardo Uram, que trabalhava com o Figueirense, brigou com dirigentes. E a diretoria resolveu afastar todos os jogadores do Uram. A torcida escolheu ficar do lado do clube e passou a pegar no meu pé em alguns jogos do Brasileiro. Depois disso fui afastado.

Saí do Figueirense e cheguei ao Bahia. Fui prejudicado, porque cheguei afastado do Figueirense. Há desconfiança da torcida, da imprensa e por parte do clube. Quem me levou ao Bahia foi o Paulo Angioni, que trabalhou comigo no Vasco, estava no Bahia em 2011 e voltou ao Vasco. Cheguei ao Bahia, fui titular nas semifinais do Estadual e na final. Só que na final perdemos aquele jogo para o Vitória por 7 a 3. Joel Santana (técnico) foi mandado embora, Paulo Angioni foi mandado embora, e junto deles alguns jogadores...

Lembro que a torcida fez uma lista com alguns nomes que deveriam ser dispensados. Em nenhuma das listas constava o meu nome. Nunca apareceu. Mas estranhamente – até hoje buscamos saber o motivo –, acabei sendo afastado. Então as passagens por Figueirense e Bahia foram as ruins que tive na carreira.

Você cresceu no América. E na lateral. Mas há quem ache que sua posição é o meio-campo, como volante. Qual a preferência?

Prefiro jogar no meio. Já falei mil vezes. Quem fala que sou lateral e jogo improvisado no meio, digo que é ao contrário. Joguei minha vida toda no Vasco como volante. Mas subi como lateral-esquerdo. Na Espanha (Real Zaragoza) também joguei de volante. Quando cheguei ao Cruzeiro, o Cuca tinha um problema na lateral direita e me perguntou. Falei que sabia. Nunca tinha jogado, mas falei que sabia. Queria jogar. Depois, com o Cuca no Cruzeiro, me tornei lateral. Mas prefiro o meio. Deixei bem claro para meu empresário, para o Salum, para o Givanildo. Tento colaborar jogando na lateral, mas minha posição sempre foi volante.

Então estou certo ao te considerar volante de origem nas matérias...


Está sim. Quando leio, vejo essa observação. É volante mesmo (risos)...

Você conversou com teu empresário a respeito do futuro? Há o interesse em ficar no América?


Antes de eu sair do América, já havia sido procurado pelo Flávio Lopes (gerente de futebol) se havia o interesse em continuar. Até mesmo o Alexandre Faria ligou para o meu empresário perguntando se eu ficaria. Mas é complicado. Agora tem que esperar. Sempre deixei tudo nas mãos do Eduardo Uram (empresário), pois ele cuida da minha carreira há anos. Fui ao Rio para conversar com ele. Mas só conversamos da temporada que passou. Que correu tudo bem e graças a Deus tudo deu certo. Sobre a temporada seguinte, não falamos nada. Falei com ele do meu desejo de continuar no América, mas ao mesmo tempo penso em tentar alguma coisa um pouco melhor. Até uma Série A ou outra coisa fora do Brasil. Mas o Eduardo não deixou escapar nada. Apenas disse que está trabalhando e buscando algumas coisas.

Deixei claro que fui muito feliz no América. Se puder continuar, continuo. Mas a gente sabe que algumas coisas estão mudando no clube. Inclusive pode mudar a própria parceria com o Eduardo Uram. Então eu prefiro esperar, deixar na mão dele e ver o que vai resolver. Acredito que até o Natal há algo concreto.

Carlos Cruz/América


Os problemas financeiros vividos pelo América te assustam? Pesa para renovar o contrato?

A gente lê algumas coisas. E ficamos com medo, pois as situações dos clubes estão complicadas. Mas particularmente falando, tudo que o América me prometeu esse ano, ele cumpriu. Não posso falar que tem um pé atrás, porque nunca me deveu nada. Ficamos com medo de ler sobre isso, mas sempre confiei no Salum. Sempre que me deram uma data, cumpriram. Sabemos que um ou dois dias de atraso é burocracia de clube, de banco, etc. mas graças a Deus não tenho nada o que reclamar da diretoria. Fica um pouco de medo, mas se chegar a um acordo com o América, não impediria de renovar por mais um ano.

Hoje você é indiscutível titular do América. Está adaptado tanto na lateral quanto no meio. Isso pesa para ficar ou há o desejo de buscar novos desafios? Talvez enfrentar novas concorrências, com filosofias diferentes de trabalho, outros técnicos...

Não posso falar que não tenho um pouco de medo, mas sou novo ainda. Tenho 26 anos. Não é a hora de acomodar. O América é um porto seguro, por tudo que aconteceu no último ano. Se continuo, seria maravilhoso. Conheço a cidade, o clube, todo mundo. Mas também não posso fechar as portas para outros desafios. Tive passagens ruins nos últimos dois anos, mas aceitei o desafio em 2014 no Tombense, talvez o maior da minha vida, e agora terminei em alta no América. Então é analisar cada situação, cada momento, enfim. Penso em continuar, mas ao mesmo tempo, se aparecer outra coisa, tenho que olhar com atenção.

Então o futuro está em aberto?

Sim. O América tem uma estrutura maravilhosa, que eu não conhecia. Mas a gente pensa em disputar uma Série A. Estivemos muito perto de subir, mas acabamos prejudicados pela perda de pontos. Estaríamos lá em cima se não fosse isso. Fiz uma boa Série B pelo América. Porém, se o desafio for ficar aqui, por que não?

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