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MUNDIAL DE CLUBES

Entrevista: Ronaldinho lembra futebol na infância, ídolos e recuperação no Atlético

Craque do Galo quer mais um título para a vitoriosa carreira, o Mundial de Clubes

postado em 14/12/2013 15:20 / atualizado em 14/12/2013 15:32

Thiago de Castro /Superesportes

Arquivo pessoal
“Futebol moleque”. Ronaldinho Gaúcho é o tipo de protagonista que pode ser caracterizado pela famosa expressão. No Atlético, não é diferente. O camisa 10 recuperou a alegria de jogar, foi campeão da Copa Libertadores e agora quer conquistar o mundo.

Na véspera da estreia no torneio pelo Galo, Ronaldinho lembra dos seus tempos de “moleque”, em Porto Alegre. “Eu só falava de futebol”, afirma. O armador ainda fala da sua relação com ídolos e da idolatria de hoje em dia.

O “moleque” Ronaldinho, que sempre encantou quem viu seu futebol desde criança, cresceu. Hoje experiente, ele é uma grande arma do Atlético no Marrocos.

O que o futebol representou durante sua infância?


Tudo que eu lembro da minha vida está relacionado ao futebol. Desde que eu tenho lembrança, é sempre com a bola junto. Meu pai (João de Assis Moreira), quando estava vivo, adorava futebol. Meu irmão, o Assis, foi profissional e sempre eu o acompanhava nos treinamentos e nos jogos do Grêmio. Tive a sorte de ter meu maior ídolo dentro de casa. Já comecei a fazer escolinha desde muito novo, depois fui para o futebol de salão. Com os colegas de escola e também com os amigos de bairro, eu só falava de futebol. Tudo na minha vida sempre foi relacionado com a bola.

Existe uma história que quando você tinha 13 anos de idade, marcou 23 gols num jogo só. É verdade?


É verdade sim, aconteceu mesmo, na época de escola. Mas também porque os molequinhos do meu time eram fraquinhos. E eu tinha uma diferença muito grande de estilo de jogo, comparado aos outros.

Quando você percebeu que o futebol, além de uma brincadeira, tinha se tornado algo sério para você?

Desde criança, sempre foi o que eu quis fazer. Sempre me imaginava jogador, sempre quis ser o que meu irmão Assis era dentro de casa. Vendo ele todo o dia treinando e atuando, eu me inspirava e sonhava em vestir a camisa do Grêmio um dia. Quando pequeno, não tinha dúvidas que o futebol seria minha profissão. Assistindo à Copa do Mundo de 1994 e acompanhando o tetra da Seleção, eu pensava ainda nas categorias de base: ‘quero fazer aquilo ali que o Romário está fazendo. Quero isso para a minha vida’.

A improvisação e a criatividade sempre foram marcas da sua carreira. O quanto o estilo “moleque” de jogo faz a diferença dentro de campo?

Isso é o que torna o estilo de jogo do brasileiro diferente. Quando crianças, somos ‘peladeiros’ e temos a possibilidade de levar essa característica até o profissional. Enquanto os outros são mais ‘mecânicos’, prezam a tática, nós do Brasil improvisamos, driblamos e criamos. Esse é nosso diferencial.

Arquivo pessoal
Muitas crianças se espelham em você, sonham em jogar futebol profissionalmente. No entanto, não sabem que a rotina do esporte é pesada e requer muito comprometimento. Qual o conselho que você pode passar aos futuros candidatos a craques?


Sinceramente, é dizer que vale a pena todo o trabalho duro. Não é fácil, mas é muito bom fazer o que mais ama, realizar os sonhos. A parte de treinamento físico é chata, eu particularmente nunca gostei. Adoro mesmo é estar com a bola, entrar em campo. Mas ela é muito importante. Acabamos aprendendo a lidar com tudo isso, a nos sacrificar quando preciso.

Por onde você passa, arrasta uma multidão de fãs. Durante a última Copa Libertadores foi assim na Argentina, Bolívia, Paraguai e México. Até na Índia, onde lançou recentemente o projeto de uma animação, milhares de pessoas te recepcionaram no aeroporto. Como é ser o Ronaldinho Gaúcho, um astro mundial?

A culpa é da minha mãe (Dona Miguelina) e do meu pai (João de Assis Moreira), que me fizeram com bastante carinho. Mas sei lá, pelo meu histórico no futebol, o mundo todo viu minhas conquistas e as pessoas têm curiosidade de estar perto, de tirar uma foto. Fico com o ego lá em cima. Meu sonho de criança era ser conhecido, tirar foto e dar autógrafo. Realizei todos eles.

Mas um astro precisa conviver também com o outro lado da moeda. As cobranças sobre um craque são sempre em dobro. As críticas ainda te incomodam?

Não, para mim elas são motivadoras. É legal saber que os outros sempre estão esperando que você faça a diferença. Então, isso me motiva para eu treinar bem, me preparar para os jogos. Se eles estão esperando algo diferente, é porque eu posso fazer. As cobranças me trazem mais confiança.

Você sempre exerceu esta condição de liderança que tem no Atlético pelos clubes que passou?

Sempre tive este espírito de líder dentro de campo, até pelo meu estilo de jogo. Quando pequeno, era o capitão das equipes, e isso continuou no profissional. Foi uma coisa que surgiu de forma natural. Mas não gosto de falar que sou “aquele” líder. Gosto apenas de passar toda minha experiência no futebol, o que é bom para todo mundo.

Seu talento é reconhecido por todos os atletas do futebol mundial. Como é ser um astro até para seus companheiros de trabalho?

É muito legal, porque passei por isso do outro lado, quando ia jogar com os meus maiores ídolos. Fico muito feliz por ter conseguido construir este histórico bacana no futebol e conquistado o que conquistei nos gramados.

Sente orgulho de ter atuado com algum ídolo em especial?

Joguei com Romário, Ronaldo, Rivaldo e tanto outros. Olhando para trás, vejo que foi tudo muito rápido, de adolescente a estar jogando com os meus ídolos. Entendo muito bem o que os jovens do Atlético estão passando aqui comigo e fico feliz de ter a possibilidade de, hoje, estar do outro lado, na condição de ídolo.

Ao trocar o Flamengo pelo Atlético, em 2012, muitos questionaram se você voltaria a atuar em alto nível. Como você, já eleito duas vezes o melhor do mundo, lidou com o momento de ter que “recomeçar”, provar seu talento novamente?


Eu gosto disso. Adoro entrar em campo e pensar: ‘lá vou eu de novo, vou provar quem eu sou novamente’. Não é a cada troca de clube que vem esse sentimento. Mas a cada fim de semana, a cada partida. Coloco isso na minha cabeça, me motivo. O que mais me deixa feliz é jogar bola, é o que eu mais amo fazer. Enquanto eu tiver alegria para jogar futebol, será sempre, para mim, aquela história: provar todo dia que o ‘Ronaldo é o Ronaldo’.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Você é o primeiro jogador a ganhar os títulos da Copa Libertadores, Liga dos Campeões da Europa, Copa do Mundo, Copa América, além de já ter sido eleito o melhor do mundo. Na decisão da Libertadores, contra o Olimpia, o que sentiu quando o Galo conquistou aquela taça, após uma campanha tão dramática?

Foi a realização de um trabalho e de um projeto. Desde que cheguei ao Galo, o objetivo era fazer o clube voltar à Copa Libertadores. E também queria muito entrar para a história do Atlético. Tinha este sonho. No momento das cobranças dos pênaltis, no Mineirão lotado, naquela final contra o Olimpia, veio muita coisa na cabeça. Mas ficou o sentimento de dever cumprido.

O apoio da torcida do Atlético e da sua família, desde que você desembarcou em Belo Horizonte, foi incrível. O quanto esse carinho te motivou?

Falar da família é até complicado, pois ela me apoiou a vida inteira. O que foi muito surpreendente no Atlético, e em tão pouco tempo, acabou sendo o torcedor do Galo. Eles me abraçaram no momento mais complicado da minha carreira. Devo muito à torcida do Galo, pelo respeito e motivação. Vou levá-la no coração para o resto da minha vida.

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