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Martelotte detalha crise no Santa Cruz e diz que faltou competência para gerir problemas

Técnico ainda vê que administração atual acaba de maneira desastrosa

postado em 16/11/2017 11:23 / atualizado em 16/11/2017 21:00

Rafael Brasileiro/DP
Depois de ser pego de surpresa e ter ironizado a postura da diretoria no processo de demissão, o técnico Marcelo Martelotte convocou uma coletiva de imprensa, na manhã desta quinta-feira, para esclarecer a saída do Santa Cruz. O treinador deu detalhes dos bastidores do clube e também criticou a postura dos gestores, liderados pelo presidente Alírio Moraes. Para ele, faltou competência para gerir a crise que insaturou no Arruda. Confira abaixo as principais falas do ex-comandante coral.

Diretoria acusa treinador de não ter defendido o clube

“Ficou muito difícil defender a diretoria perante jogadores quando pouca coisa foi feita no sentido de ser resolver os problemas. Então, se ele (Alírio Moraes) entende que a diretoria do clube pode ser misturada com o nome, entidade do clube em si, eu acho que é uma visão errada. Eu sempre defendi o Santa Cruz independentemente de quem estivesse na presidência. Eu, como atleta e técnico, tive vários presidentes diferentes e sempre defendi a instituição. Desta vez, também entendo que tudo que fiz foi em prol do Santa Cruz. Foi por entender que, em algum momento, o Santa Cruz vai ter que mudar sua maneira de trabalhar, de administrar para que os resultados possam vir.”

Problemas entre diretoria e jogadores

“O que a gente fala aqui é de administração que acaba de maneira desastrosa. A gente fala aqui de o time poder não entrar em campo nos últimos dois jogos. Acho que isso resume tudo que aconteceu no Santa Cruz nesses últimos anos. Acho que o clube precisa solucionar seus problemas internos. O que posso dizer é que faltou competência nesse sentido para se chegar em uma situação dessa na reta final de campeonato com o clube rebaixado e com possibilidade real de os jogadores não entrarem em campo.”

Saída pode definir greve do time?

“Acho que não vai ser motivo para isso. É uma situação que vem se desenhando nas última semanas, principalmente porque ocorreram situações de não resolução de problemas que agravaram essa relação de jogadores e diretoria. Acho que o motivo principal não vá ser minha saída. Está apenas nas mãos dos jogadores. Eles vão ter que decidir. Vai ter que ter alguém para fazer essa interlocução nesse momento de crise para que as coisas transcorram no seu normal.”

Principais dificuldades no clube

A questão dos salário é real. Todo mundo sabe. Em termos estruturais, a gente não teve muito problema. A gente fazendo com que algumas situações desfavoráveis fossem superadas. A gente teve condições. Sabemos que o Santa Cruz tem seus problemas também. Não tem um centro de treinamento, não tem uma concentração própria ou tem essa concentração que não é ideal, lá no Arruda. A gente passou essas pequenas dificuldades no dia a dia, mas o que acho que agravou foi essa questão de salários atrasados. Toda vez que a gente vê a diretoria tentar argumentar, a gente vê jogadores que não recebem há três meses. A comissão técnica não recebe há cinco. Tem mais sete meses que ficaram do ano passado. Se você somar tudo, tem problemas seriíssimos que acumularam e acabaram chegando nessa situação no final de temporada que a gente insustentável.
 

Voltar a trabalhar com a atual diretoria

“É difícil falar. É um mandato do presidente que se encerra no final (do ano). Eu vejo que, principalmente pelo desgaste que teve nessa passagem, eu vejo uma dificuldade muito grande de trabalhar com essa diretoria, principalmente da maneira como foi conduzida esses últimos episódios. Mas eu sou um cara que costumo analisar as coisas de uma maneira bem fria. No futuro, pode ser que não tenha um peso tão grande, essa maneira que eu saí para o clube em um trabalho futuro.”

Como foi a movimentação antes do jogo com o Paraná?

“Na verdade, para esse jogo do Paraná, não houve concentração. A gente marcou a apresentação dos jogadores direto no Arruda a partir das 15h. Sabíamos que a partir daí teria uma reunião da diretoria para que chegasse a conclusão se participaria ou não dos jogos. Havia um pleito a respeito de pagamento, que não foi cumprido. Houve essa reunião da diretoria, com presidente, participação do sindicato e dos próprios atletas. Foram feitas novas promessas. E a partir dali os jogadores decidiram de vontade própria entrar em campo e jogar atendendo ao desejo deles mesmos. Eu não entendo que essa reunião tenha feito eles mudarem de ideia. Eles mesmos explanaram isso durante os jogos. Então, foram horas de apreensão porque havia, realmente, a possibilidade de o time não entrar em campo. Mas o que a gente viu foi uma participação positiva dentro da partida. O grupo mais uma vez empenhado em atuar bem, vestir bem a camisa do Santa Cruz.” 

Procura de candidatos na eleição do fim de ano para permanecer

“Ninguém me procurou. Eu também acho complicado esse contato pré-eleição. É difícil você ter uma noção do que vai acontecer. Estou voltando para minha casa agora. Não tem nenhuma situação com relação a nenhuma outra equipe até porque até ontem estava no Santa Cruz. Mas eu sempre falei que tenho essa identificação com o Santa Cruz. Não tenho nenhum convite. O que posso dizer é que deve se aguardar a eleição e, se houver interesse de que vencer no meu trabalho, esse contato será feito e eu irei avaliar.”

Treinos mais recreativos e menos táticos

“Era sempre uma opção minha. Até porque, depois do jogo do Náutico, onde essa situação acabou ficando mais latente com relação à insatisfação dos jogadores, eu optei por fazer treinos mais recreativos para conduzir de uma maneira mais leve o trabalho. A gente também teve muitos jogos em sequência, o que impossibilitava que a gente fizesse uim treinamento mais forte. Obrigou que a gente fizesse mais um trabalho de recuperação. Mas, independentemente disso, eu penso que, excetuando o jogo lá em Varginha contra o Boa Esporte, em que a atuação foi bem abaixo que vinha apresentando, os demais jogos a gente acabou comprometido, atuando bem.”

Está faltando muito para a direção ser profissional?

"Em alguns aspectos, eles deixaram a desejar e estou falando isso porque, se pensarmos em futuro... Vai ter uma eleição. Essa diretoria vai sair e espero que uma nova gestão entre e toque o Santa Cruz a partir de agora. Em relação aos últimos anos que estive presente, faltou muito em relação à administração. Em 2015, tivemos resultado e colocamos o clube na primeira divisão. Entendíamos que era uma oportunidade do clube se modernizar ou ao menos se estruturar mais. Infelizmente após dois anos do acesso, você vê o time voltando para a Série C. Isso mostra o quão desastroso foram os últimos anos."

Relação com o elenco

"Esse grupo foi um grupo excelente de trabalhar e, se cheguei até aqui, foi por conta da relação que tive com eles. Logo que cheguei sabia de toda a dificuldade e a primeira coisa que falei para eles foi que eles tinham todo o direito de pegar o material e pedir para rescindir o contrato. Era o direito deles pela situação que viviam e disse que, quem ficasse, teria que lutar até o final. Tivemos a saída de alguns jogadores nesse período porque a situação era extrema. Quem ficou, se empenhou ao máximo até que chegássemos a essa situação limite."

Se você tivesse chegado no começou ou até quando Givanildo assumiu, teria sido diferente?

"Não. Se o cenário fosse o mesmo, os problemas fossem os mesmos, não vejo essa possibilidade. Acho que essa responsabilidade não tem que cair sobre os treinadores. Nem no Vinícius, nem no Givanildo, nem no Adriano e nem em mim. Foram os aspectos extracampo que prejudicaram a campanha como um todo."

O Santa Cruz está pior do que em relação as suas passagens anteriores?

"Está pior. Não sei como foi o fim do ano passado, mas as informações são que estava tão ruim quanto agora e a conclusão que chegamos é que não evoluímos em nada. Não conseguimos sair dessa situação nem com o clube participando de uma Série A. É uma situação que é triste porque sabemos o potencial do clube."

Como foi lidar com esses problemas no vestiário?

"Na verdade, a gente teve uma condução até pelo entendimento dos jogadores que foi legal. A resposta foi boa do lado deles, mas, no momento, que conseguimos uma certa tranquilidade para trabalhar com a cabeça dos jogadores, ele não foi aproveitado pela direção para que algo fosse feito. A gente teve um momento que conseguimos equilibrar o grupo e só pensar nos jogos. Sabíamos que isso tinha uma validade e que uma hora iria estourar. Sabíamos que se não houvesse solução dos problemas principais, teríamos um final assim, que haveria essa possibilidade dos jogadores não atuarem. Esses problemas poderiam ter ocorrido há dois meses atrás se não fosse pela hombridade dos jogadores que seguiram trabalhando."

Trabalhar na Série C seria um demérito?

"Não seria demérito nenhum trabalhar em nenhuma situação no Santa Cruz. O que vale é a grandeza do clube mais do que a divisão."

Como os jogadores reagiram à sua demissão?

"Conversei com o Grafite. Temos muita coisa em comum. Esse carinho pelo Santa Cruz e essa história dentro do clube. A gente compartilha muita coisa que esperamos ver no clube. Ele representando os jogadores, demonstrou a sua indignação com a situação e pedi a ele que transmitisse um abraço e fica essa relação boa com os atletas."

Como você vai colocar essa passagem no seu currículo? 

"Rebaixamento não se põe no currículo (risos). Mais do que o currículo, fica a experiência. Não vai ser no dia que conquistarmos títulos que vamos aprender. Serviu como experiência, serviu como aprendizado e, apesar do resultado não ter vindo, alguns aspectos positivos irei levar para a minha carreira. Outras situações que não funcionaram levarei para o resto da minha carreira." 

Algo lhe surpreendeu nesse desfecho?

"Muita coisa me surpreendeu. Eu menosprezei a crise. Essa foi a pior de todas. Sem dúvida alguma. Me surpreendeu negativamente pela desorganização. Não tínhamos nenhuma posição sobre a solução desses problemas. O que me surpreendeu mais é que faltam seis dias para o fim do campeonato. É difícil se entender os motivos. Talvez pelo aspecto de não termos mais possibilidade na competição. Talvez qualquer motivo que se procure só piore a situação. Estava preparado para cumprir até o final, mas no futebol já estamos meio que acostumados com esses problemas e situações. "