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Como se dá a crise política no Sport e o que pensam lideranças que estão em lados opostos

Na próxima terça, reunião no Conselho Deliberativo será o cenário do atual momento do clube, que passa por intenso debate; entenda o que acontece

postado em 21/04/2018 10:00 / atualizado em 21/04/2018 17:06

Nando Chiappetta/DP
Dia 24 de abril. Desta terça-feira. Às 20h. Esse é o momento da próxima reunião do Conselho Deliberativo do Sport. O encontro está cercado de expectativas por parte dos rubro-negros. Nele, o presidente Arnaldo Barros apresentará os dados do balanço financeiro de 2017. Números que, antecipadamente, já se sabem que serão negativos. Ao gestor, caberá dar as explicações em um momento que os bastidores do Leão estão em ebulição. Nesta reportagem, o Superesportes detalha o que acontece na Ilha do Retiro. Traz as visões dos dois lados da história e coloca em público para que o torcedor avalie. No entanto, não haverá a participação de Arnaldo Barros. Procurado pela reportagem através da assessoria de imprensa, o gestor preferiu não dar declarações sobre o tema até a apresentação oficial dos dados no Conselho.

O início da turbulência

Tudo começa com o futebol. Depois de temporadas investindo alto na tentativa de alcançar os principais clubes do Brasil, o Sport passou a conviver com a decepção ainda em 2016, quando brigou para não ser rebaixado na Série A até a última rodada. Mas, no fim daquela temporada, os sócios deram um voto de confiança e elegeram como presidente Arnaldo Barros, indicado por João Humberto Martorelli - que deixaria o mandato. A votação teve recorde de participação com 4.063 presentes dos quais 62% foram a favor da continuidade do trabalho.

Ao assumir o cargo, Arnaldo passou a comandar mudanças no clube. Alegando ser uma competição deficitária, retirou o Sport da Copa do Nordeste no primeiro ato que gerou resistência na torcida. Em seguida, a conquista do Campeonato Pernambucano - a sua única taça à frente do Leão até o momento - amenizou a turbulência. Mas, depois do Estadual, vieram os insucessos. O Rubro-negro foi eliminado nas Copas do Brasil e Sul-Americana. Já na Série A de 2017, após terminar o primeiro turno em sexto lugar, na zona de classificação para a tão sonhada Copa Libertadores, desceu a ladeira e precisou vencer na última rodada para evitar um rebaixamento. 

Naquele momento, o Sport ainda contava com estrelas em campo como Diego Souza e André. Também não haviam registros públicos de atrasos no salário. Mas, antes mesmo da virada de temporada, o cenário mudou. Na reta final do Brasileiro, a conta não estava fechando e começaram a acontecer os primeiros atrasos. 

Os problemas deste ano

O Sport começou 2018 com questionamentos sobre dívidas, saídas das principais estrelas e processos judiciais. O clube, por exemplo, foi acionado por não ter pago a compra de 50% dos direitos econômicos de Rithely ainda no ano passado. Nessa semana, o Atlético-MG ganhou uma causa, que ainda cabe recurso, pelo não-pagamento de R$ 1,3 milhão dos 20% dos direitos econômicos do atacante André junto ao Atlético-MG, também em 2017.  

Em campo, as contas também não fecharam. Após apostar na volta do ídolo Nelsinho Batista, o Sport reformulou o elenco e trouxe atletas com salários mais baixos e com menos peso no cenário nacional. O resultado, até o momento, não veio. Além de não chegar na final do Estadual, acabou eliminado pelo Ferroviário-CE na Copa do Brasil após abrir um placar de 3 a 0 e fez uma estreia ruim na Série A, perdendo por 3 a 0 e com um time novamente modificado.

Os insucessos de quem imaginou chegar um dia na Libertadores começaram a se converter uma chuva pesada de críticas. Parecem até se sobrepor a realizações positivas, como a profissionalização do clube em vários setores além do afastamento de uma uniformizada do estádio. Na última semana, as queixas se intensificaram. 

Sócios estão se manifestando para reunir 500 assinaturas e convocar uma assembleia geral para pedir impeachment. Ex-presidentes estão se reunindo e, na última quinta-feira, começaram a elaborar uma proposta para acompanhar os gastos do clube. Agora, em ebulição, a Ilha do Retiro aguarda a apresentação do balanço financeiro.

Os números do balanço financeiro de 2017*

  • R$ 9.073.021,30 milhões de débito com impostos
  • R$ 18.313.641,14 de déficit
  • R$ 123.785.387,00 de gastos
  • R$ 105.471.746,00 de arrecadação
*confirmados pelo presidente do Conselho Deliberativo, Homero Lacerda

O que dizem os críticos

Wanderson Lacerda (ex-presidente)

Nando Chiappetta/DP

Sem oposição

“Não tem palanque político. Desde que nós encerramos a eleição ano passado, eu, pessoalmente, disse ao presidente, junto com Branquinho (Severino Otávio), que a política do clube estava encerrada a partir daquele dia e está até hoje. Independente, de pensamentos maldosos, de pessoas que dizem que o palanque está armado. O que existe é buscar o bem do clube, que está em uma situação difícil.”

Posição do presidente

“Arnaldo é uma pessoa muito educada. É uma pessoa do fino trato. É do bem. Todas as vezes que se procurou Arnaldo, ele atendeu. Inclusive, ele participou de uma reunião com alguns ex-presidentes natos e alguns conselheiros de relevância. Foi muito educado e fez as explicações dele. Pelo tempo que foi ocupado, não deu para que ele fizesse uma explanação sobre uma série de itens que separamos para conversar com ele. Mas, o meu entendimento é que Arnaldo se afastou das lideranças do clube por influência de alguém. Esse pecado ele cometeu. Não é um pecado mortal. É um pecado original. Ele tem culpa porque não é um menino. Ele é de maior e sabe o que tem na cabeça. Porém, tenho certeza absoluta que ele foi influenciado. Infelizmente, as influências levaram ele para uma situação negativa para o Sport a nível nacional. Não é só o balanço. É um problema maior. O Sport virou manchete nacional de dívidas.” 

Candidato de oposição

“Eu quero dizer que você pode escrever em negrito: essa possibilidade é zero. Não temos nenhum pensamento sobre eleição no Sport nesse momento. O que a gente pensa é que a nossa obrigação em levar ao presidente soluções para o clube. Se fosse, estaríamos com o palanque montado. Quem vai ser candidato ou não, no momento próprio, isso vai acontecer. Tenha certeza. Enquanto não for aberto o processo sucessório, nós não teremos mobilização neste sentido.” 

Aceitaria ajudar

“Isso é uma pergunta abstrata. Só gosto de responder no concreto. A nossa obrigação é levar sugestões para salvar o clube. Se vou para uma reunião, pensando em cargo, não estou lá para ajudar o clube. Tiveram algumas pessoas que foram indicadas, anteriormente, mas foram vetadas. Então, prefiro não falar sobre isso. Só posso tratar novamente na hora que houver uma posição concreta.”

Homero Lacerda (presidente do Conselho Deliberativo)

Roberto Ramos/DP

Cenário e proposta

“O Sport está extremamente tumultuado. É preciso serenar para não tomar medidas precipitadas. Tivemos um almoço com presidentes natos (quinta-feira). Está tendo um movimento muito forte para ter uma assembleia geral e pedir o impedimento do presidente. Isso é um processo muito traumático, que deixa sequelas. Então, a gente vai fazer uma proposta de conciliação no sentido de se acompanhar as despesas, receitas, a parte financeira do clube. Uma proposta para controlar e gastar o que se der. E acabou.”

Futebol x finanças

“A parte financeira do clube é muito importante. Até mais do que o futebol porque, se a parte financeira for mal, vai prejudicar o futebol durante dez anos. Está aí o Santa Cruz e o Náutico. Estamos alinhavando isso. Se o executivo aceitar, vamos trabalhar, para que não haja necessidade de inibir esse pedido de assembleia geral. Acho que não é saudável desde que haja esse controle. Se não tiver, fatalmente vai haver essa assembleia.”

Balanço deficitário

“É extremamente preocupante. A preocupação existe sobre vários aspectos tanto sobre prejuízo como na inadimplência tributária, inadimplência de parcelamento de débitos, é uma coisa extremamente preocupante.”

Oposição

“Não aceitamos a mistificação de que o nosso posicionamento é político. Isso não é verdade. Os ex-presidentes, como toda a comunidade rubro-negra, está preocupada com o destino do Sport. O clube pode ser inviabilizado nos próximos dez anos.” 

O que diz a situação

Gustavo Dubeux (vice-presidente)

Roberto Ramos/DP

Momento de turbulência

“Eu vejo esse momento com naturalidade. O Sport é um clube efervescente, que mostra que está vivo. Principalmente, quando existe o momento, que o futebol não está bem. A saída prematura da Copa do Brasil e o fato de não ter ganhado o Pernambucano mexe muito. O futebol deixa as pessoas com o emocional mais comprometido. Há esses questionamentos, feitos até por Homero. Conversei com o presidente e ele vai explicar todos esses pontos na reunião de terça-feira. É muito importante os conselheiros e sócios estarem presentes.”

Antecipação de cota

“Há uma garantia do presidente que é fundamental. Todo adiantamento que for contraído vai ser pago dentro da própria gestão. Então, quem for assumir o clube no próximo ano, não vai ter que abater nenhum adiantamento das cotas de televisão. Isso é uma coisa fundamental. Essa é uma das grandes preocupações dos questionamentos realizados.”

Diego Souza e André

“Diego Souza e André quiseram sair do Sport. O Sport não disse que queria vender. O próprio André se negou a jogar e Diego procurou o presidente para ser negociado. Mas, evidentemente, todo investimento que você faz, é para ter um retorno. Então, um jogador você tem que desfrutar primeiro dele desportivamente, ajudar o clube nas conquistas e depois vender. Foi o que aconteceu. 

Houve um investimento por André e Diego Souza e o Sport vendeu quase pelo dobro que gastou com os dois. Evidentemente que isso foi a prazo e será pago ao longo do ano. Em função disso, há o comprometimento de cumprir o orçamento. Se um jogador desse tivesse sido vendido ano passado, ele teria encerrado no zero a zero, digamos assim.”

Reformulação no futebol

“Houve uma necessidade de reformulação, que era uma coisa cobrada já há um tempo. Essa reformulação, evidentemente, tem seus ajustes que estão sendo feitos. O Sport não começou bem o campeonato (Série A). O Sport, com o dinheiro que tem, faz investimento em jogadores da região que estão despontando e traz jogadores, como Diego Souza e André, quando estão na baixa. São oportunidades de mercado. Vai haver um momento em que o Sport vai voltar a investir. Pelo que me consta, os salários agora estão em dia com a folha de jogadores. Isso é um caso que todos clubes passaram, claro tirando clubes como Palmeiras.”

Como vai chegar no fim do ano

“Ele não vai deixar para a própria gestão nenhuma questão para abater no próximo ano. Se você entrar num clube e ter que abater da receita questões da gestão anterior é muito ruim. Isso é comprometimento de Arnaldo de deixar o clube assim. A venda dos jogadores foi diluída ao longo do ano e vai ser possível ajustar. Então, se Deus quiser, o Sport vai terminar o ano na Série A mais uma vez  e com uma situação financeira tranquila para quem venha a assumir.”

Oposição

“Entendo que a eleição é uma mais para frente. Entendo que todos são pessoas que gostam do Sport. Talvez, com as explicações que o presidente vai dar na próxima reunião do Conselho, eles fiquem bem atendidos.” 

Augusto Carreras (ex-diretor)

Annaclarice Almeida/DP

Debate antecipado

“Eu acho que estão tentando antecipar um debate eleitoral, que só vai acontecer no final do ano. Isso é extremamente prejudicial ao clube. Não constrói nada em um momento que o clube precisa de apoio. Os próprios ex-dirigentes se antecipam em desestabilizar o clube e descredenciá-lo no cenário nacional. Vejo muito pessimismo quando estamos começando um Campeonato Brasileiro e agora que acabamos o primeiro trimestre do ano.”

Dívidas

“Não tenho a menor dúvida de que o clube chegará ao fim do ano com as questões sanadas até porque tem recursos para entrar. Recursos que eu chamo de extraorçamentário, que não estava previstos no orçamento, como a venda de atletas. Tiveram as vendas de André e Diego Souza. Está se falando em um déficit de R$ 18 milhões, só essas duas negociações, elas giram em torno de R$ 20 milhões. Elas entrarão no exercício de 2018. Fora alguma que possa aparecer.”

Investimentos altos

“Eles atrapalham esse fluxo de caixa (compras de jogadores). Não sei se recordam, mas, em 2017, tivemos a orientação de reduzir em 30% a despesa com o futebol. Em 2017, não houve nenhuma ‘luva’ contrato de patrocínio. O Sport viveu em 2017 com as receitas orçamentária com um incremento de ter que pagar a aquisição de jogadores. Mas, eles também são patrimônios do clube. A compra de André vai para aparecer no balanço de 2017, mas a venda, que teve um lucro de 100%, só vai aparecer em 2018.”

Projeção

“Com relação ao futebol, acredito que o Sport vá buscar uma vaga em uma competição sul-americana. Com a condição de um 12º lugar, se assegura uma Copa Sul-Americana. Acho que o Sport pode ir até mais na frente e brigar para estar entre os dez primeiros. Não tenho dúvida também que, sobre o aspecto financeiro, o clube vai estar saneado. Ter dívida não significa que está inviabilizado. O Sport, ao longo dos anos, teve dívidas, mas são negociáveis. Dívidas que têm um planejamento para ser pagas. O presidente Arnaldo vai esclarecer como isso vai acontecer.”