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Coluna de Fred Figueiroa: 'Após rebaixamento, como anda o novo xadrez político do Sport'

Colunista do Superesportes analisa os cenários que os candidatos à presidência do Sport, Milton Bivar e Eduardo Carvalho tem à frente do clube

postado em 05/12/2018 15:40 / atualizado em 05/12/2018 16:45

Leo Malafaia/Esp.DP; Paulo Paiva/DP
Ontem - durante a gravação do Podcast 45 Minutos - participei de longas entrevistas com os dois candidatos à presidência do Sport, Milton Bivar e Eduardo Carvalho. Foram as primeiras depois que o então candidato da situação, Augusto Carreras, anunciou a retirada da sua chapa. A desistência, naturalmente, gerou novos movimentos no complicado xadrez político do clube. De imediato, o caminho natural parecia o da composição entre as duas candidaturas de oposição. Analisando de fora parecia o desfecho mais lógico. Mais racional. Porém, ao longo da terça-feira, as sinalizações foram na contramão do consenso e os discursos foram ganhando um tom mais forte entre os dois opositores. Nos bastidores da entrevista, com microfones desligados, ambos reclamaram de ataques “acima do tom” que sofreram de apoiadores rivais. Ficou a sensação, inclusive, que o momento de tensão política que tomou o clube acaba criando muros e arestas que os próprios candidatos não têm entre si. As suas linhas de apoio alimentam um confronto que poderia ser - se não evitado - pelo menos diluído. Milton e Eduardo trabalharam juntos em 2007 e 2008. Em mais de 1h15 de entrevista não houve uma única crítica direta. São sinais muito discretos, mas que deixam uma última porta aberta para a composição. 

O que os separa

Claro que, estrategicamente, nenhum dos dois faria uma declaração pública de união. Durante a entrevista, Milton Bivar - em condição favorável no cenário pelo seu peso histórico no clube - evitou qualquer aprofundamento no tema. Importante situar que eram pouco mais de 11h. Tudo estava muito recente (Carreras desistiu depois das 22h de segunda-feira). E sequer havia acontecido o lançamento oficial da chapa de Eduardo. Era um ambiente mais incerto e o ex-presidente parece ter se esforçado para não se posicionar sem ter uma noção mais clara de qual seria a postura do agora único oponente. Na conversa com Carvalho, já à noite, ficou mais claro o que os distancia. O ex-vice presidente jurídico e administrativo do clube relatou, detalhadamente, encontros com Milton ainda no início da composição das candidaturas. Na sua versão, defendia que o processo fosse conduzido de forma aberta para atrair mais apoio de lideranças políticas e dos sócios e que, só depois, os nomes da chapa deveriam ser definidos. Eduardo contou que, por duas vezes, ouviu de Milton a expressão: “Eu não abro nem para um trem”. Por isso decidiu lançar sua candidatura como uma terceira via. E por isso pretende seguir até o fim.

Fugindo de Arnaldo 

No movimento do xadrez, Eduardo Carvalho tenta reposicionar Milton no espectro político do clube - apontando ligações com o atual presidente Arnaldo Barros. Um dos argumentos utilizados foi o convite para assumir a vice-presidência de futebol depois da eliminação vexatória na Copa do Brasil para o Ferroviário/CE. Eduardo afirma que Milton aceitou o convite e, depois, declinou. O que, na sua visão, mostra que havia alguma aproximação com a atual gestão. Na versão de Bivar, o convite não chegou a ser aceito. Mas ele não nega que esteve, sim, propício a assumir a missão. Porém aponta justamente o distanciamento de Arnaldo como o obstáculo que o fez desistir. Milton conta que o atual presidente não o encontrou em momento algum - apesar das várias tentativas - e, assim, acabou recusando o cargo. Neste caso específico, até por ter acompanhado este processo de perto na época, não considero que a conduta de Milton signifique qualquer proximidade com Arnaldo. 

Rompimento

E, sendo justo, também não vejo que o fato de Eduardo Carvalho ter sido vice-presidente administrativo da gestão de Martorelli uma sinalização de que faz parte do grupo político em torno de Arnaldo. O argumento de Eduardo é consistente. Ele afirma ter deixado o cargo justamente quando se desenhava a composição para que Arnaldo fosse o sucessor e, inclusive, anunciou voto em Wanderson Lacerda na eleição de 2016. Ou seja, na minha leitura, essa tentativa mútua de um empurrar o outro para o lado de Arnaldo parece apenas jogo eleitoral sem qualquer profundidade. Até segunda ambos eram oposição. E continuam sendo. A saída de Carreras não muda esta condição. Considero que ambos tiveram posicionamentos que deixam claro a reprovação total da atual gestão. E vejo nos dois uma alternativa de rompimento com a linha de trabalho que está em curso. 

Auditorias

Este é apenas o primeiro texto que escrevo sobre o processo eleitoral do Sport no cenário sem candidatura de oposição. Até mesmo por tudo o que conversei com Milton e Eduardo, a tendência é que volte ao tema nos próximos dias. Alguns pontos em comum são assustadores. Ambos não conseguiram qualquer informação sobre a real condição financeira do clube e já prometeram auditorias e perícias para identificar toda a movimentação de receitas e gastos recentes. Para Eduardo, o foco está na gestão de Arnaldo Barros. Para Milton, este se estende também ao período de Martorelli. Recortes que explicam pontos de impasse na visão dos dois. Não são muitos, mas parecem fortes o suficiente para o enfrentamento no dia 18 e, pior, para o acirramento dos ânimos até a eleição.