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Futuro, Durval e pena por não usar atletas da base: Milton Mendes avalia passagem no Sport

Após não se acertar com candidato, técnico também diz que não tinha plano B e agora volta a Portugal, onde espera por uma nova proposta para 2019

postado em 08/12/2018 10:00 / atualizado em 08/12/2018 13:34

Peu Ricardo/DP Foto
A passagem de Milton Mendes no Sport foi curta, mas intensa. Com apenas 12 jogos para comandar o Rubro-negro na tentativa de livrar o time do rebaixamento à Série B, o treinador quase conseguiu cumprir a missão. Após quatro vitórias, três derrotas e dois empates, engatou um recuperação com 50% de aproveitamento. Porém, ficou a um ponto do Vasco e caiu. Em um hotel na Zona Sul do Recife, o treinador recebeu a reportagem do Superesportes, na última sexta-feira, para avaliar os bastidores desta trajetória.

Nas palavras, repetiu o discurso de agradecimento à diretoria e a exaltação do empenho dos jogadores, mesmo diante dos atrasos salariais e de o clube estar às vésperas de uma eleição. Além disso, falou individualmente de alguns jogadores. 

Exaltou a entrega de Sander, que ficou fora dos últimos seis rodadas por uma grave entorse no tornozelo. Com contrato no fim, disse que o zagueiro Durval deveria seguir no Leão após fazer apenas um partida com ele e não mais jogar, sofrendo ainda com dores no joelho. Revelou também que a única lamentação foi não ter lançado mais três atletas da base: o lateral direito Elias e os meias Jadsom e Marlon. 

Milton Mendes, agora, segue no Recife até a próxima semana e depois retorna para Portugal, onde tem residência fixa, para aguardar novas ofertas após não entrar em acordo com o candidato Milton Bivar e não fazer parte dos planos de Eduardo Carvalho, outro que se lançou para ser presidente do Leão no próximo biênio. Confira a entrevista abaixo.

Planos para futuro

“Meus planos passavam totalmente pelo Sport. Como eu disse, não tenho plano B. Viajo para Portugal semana que vem e esperar o que o mercado proporciona. Foram três meses de altíssimo nível em todos os setores, lançando jogadores. A equipe cresceu muito, jogamos bom futebol, a equipe teve pontuação quinto ou sexto lugar, foi tudo perfeito. Agora recuperar energia e esperar um nova proposta.

Eu tenho um objetivo na minha vida e na minha carreira. É agradecer também ao presidente Milton Bivar e aos diretores que estavam com ele. Foram bacanas. Tivemos uma conversa muito boa. Só que esse dado foi o que me fez tomar a decisão.” 


Ambiente de eleição atrapalhou o time?

“Eu não vou entrar por aí. Nem de perto e nem de longe, vou passar por isso. Eu só tenho a falar coisas boas do Sport e das pessoas que trabalharam comigo. Arnaldo Barros é um homem extremamente correto. As pessoas falavam e falam coisas negativas a respeito dele, mas ele foi extremamente correto. É um homem sério. Laércio Guerra, Aluísio Maluf, Gustavo Dubeux… são todos homens de altíssimo nível, altíssima linha de caráter profissional e de idoneidade. Então, eu não tenho absolutamente nada a dizer.”

Motivo do rebaixamento

“Não entrava política no vestiário, não entrava dinheiro. O que faltou é só olhar para trás, quatro meses antes. Raciocina. É fácil. É só raciocinar. Vocês estão colocando a hipótese dos últimos 12 jogos, que realmente é a conta que faço. Mas, política não foi. Dinheiro não foi. O foco dos nossos jogadores, treinador e comissão era a manutenção. Quando entrei, eu mudei o foco. Os jogadores foram extraordinários. Não tenho nada a dizer de ninguém. Desde o mais simples empregado ao mais alto funcionário, saio com uma relação extraordinária com todos… dos jogadores, quem jogou e quem não jogou, foi extraordinário. O nível de comprometimento de todos foi muito grande. O Sport não caiu pelas últimas 12 rodadas.”

Lamentação por não usar jogadores da base

Peu Ricardo/DP Foto

“Eu só tive pena disso. Se nós tivéssemos em uma situação melhor, eu teria colocado Jadsom (meia), Marlon (meia) e Elias (lateral) para jogar. Eu só tenho pena disso. Saio com essa tristeza de não ter podido colocar eles em campo. Você sabe que, para lançar esses jogadores, é preciso cuidado. Eu tenho muita experiência nisso. Já lancei no Atlético-PR, na Ferroviária-SP, no Vasco…. então, você tem que ter um cuidado. Um atleta, quando ele é novo, tem que entrar em uma situação confortável. O único que entrou na pressão e foi bem foi o Adryelson. Ele ainda se manteve até o final.”

Adryelson, Mailson e Jadson, jogadores cobiçados

“Eu não poderei falar sobre o futuro deles porque eu não vou estar com eles, pelos menos a princípio, nesse início. O que posso dizer é que todos têm potencial muito grande. Se forem estimulados como homens e como jogadores de futebol. Atenção! Veja o que eu disse: homens e jogadores de futebol. Não consegue dissociar-se uma coisa da outra. É muito importante você estimular o caráter, a entrega no trabalho e também o jogador de futebol, com as características do que o treinador vai mostrar para ele. Enfim, têm inúmeros coisas para se trabalhar que não só entrar para correr atrás da bola e chutar.”

A ausência de Sander

“Raul (Prata) quando esteve, esteve bem. O Ernando também. Mas, o Sander é um jogador ímpar em tudo. O Sander é um cara dedicado, trabalhador. Nós levamos ele para a viagem a São Paulo e chegamos a conclusão que não tinha como ele jogar. Eu perguntei a ele: você quer voltar? Ele: ‘não. Quero ficar aqui nem que fique carregando as malas para lá e para cá.’. Você vê o nível de comprometimento do cara. A gente estava no vestiário e ele ia juntar coisas do chão para estar ocupado. O Sander é um jogador ímpar. É um jogador diferente, mas acredito que Raul Prata esteve muito bem e também o Ernando. Acredito que a falta dele é relativa. Podemos diz que, se o Sander estivesse em campo, ele poderia dar algo mais do que esses jogadores que compunham e não tinha o apoio da linha de frente. Mas, a gente não pode fazer planos de uma coisa que a gente não tem. Eu não tinha o Sander. Ele tentou se recuperar. Ficou comigo, às vezes, à noite no CT durante semanas inteiras, fazendo tratamento. Ele fez tudo que podia.”

Avaliação de Durval

Peu Ricardo/DP Foto

“Durval é uma pessoa maravilhosa. É um homem digno, um cara que está lá sempre. Estava sempre conosco trabalhando. Ele teve um problema de cartilagem (no joelho). Estava sempre recuperando. Tentou voltar e fez a transição, mas sentia uma dorzinha. Eu digo que o Durval e o Magrão são entidades. São pessoas que estão em outro nível. São dois homens que estão como referência para todo mundo e uso os dois como referência para todos os jogadores. Eu tive um prazer muito grande de conhecer o Durval. Eu já era fã. Quando fui campeão na Ilha do Retiro (com o Santa Cruz, em 2015), eu fui em direção a ele e disse: ‘você um grande jogador. Um dia ainda vou trabalhar com você’. Acho Durval um cara muito importante no grupo e que merece manter-se no clube como também Magrão.”

Avaliação do futebol em Pernambuco

“Eu não posso fazer uma avaliação de coisas que não domino, mas é simples para fazer uma análise. Se você olhar o que falou e enumerou agora (quedas do Sport e Salgueiro; Santa Cruz e Náutico na Série C; times do interior sem avançar na Série D), se acontece isso, é um sinal. Alguma coisa não está bem e por que que não está bem? É aí que se faz. Cada um responsável tem que fazer uma reflexão. Cada vez que acaba um projeto, eu faço a minha introspecção e procuro melhorar o que eu de menos bom faço e procuro aprimorar o que faço de bom. Os números estão aí. É uma reflexão que tem que ser feita por todas entidades, o que eles podem fazer para melhorar. Talvez, tentando dar o passo maior que a perna. Não sei. Estou fazendo conjunturas. Mas é importante todas as pessoas verem que não adianta pensar que eu ganho cinco e vou gastar sete. Chega uma hora que vai faltar.”