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Bastidores da Copa de 2010, Dunga e poucas chances: Grafite lembra passagem na Seleção

Em entrevista ao Superesportes, atacante do Santa Cruz conta bastidores do Mundial, admite ambiente difícil, fala do temperamento forte de Dunga e do cenário atual

postado em 21/03/2016 08:01 / atualizado em 21/03/2016 07:54

Brenno Costa /Diario de Pernambuco

Karina Morais/Esp.DP
A imagem de Grafite no futebol sempre foi desenhada com contornos de imprevisão. Aos 21 anos, ele se profissionalizou sem conexão com as categorias de base. Aos 31, estava em uma Copa do Mundo pela Seleção Brasileira em um contexto de convocação ainda mais surpreendente. Precisou de apenas 35 minutos em um amistoso contra a Irlanda. Uma atuação segura e um passe de calcanhar para Robinho decretar a vitória de 2 a 0. Diante daquele desempenho, Dunga - o mesmo técnico que comanda o Brasil diante do Uruguai, nesta sexta-feira, na Arena Pernambuco - mostrou-se convencido.

A relação de Grafite com a Seleção Brasileira teve seu auge em 2010, mas começou mesmo em 2005. Ele foi convocado para o jogo que marcou a despedida de Romário da Canarinho. Entrou no intervalo da partida justamente no lugar do dono da festa. Fez mais. Marcou um dos gols da vitória de 3 a 0 diante da Guatemala, no Pacaembu.

Pouco depois, o então centroavante do São Paulo teria outra grande oportunidade. Foi convocado para duas grandes partidas nas Eliminatórias. Estaria no grupo que enfrentou Argentina e Paraguai. Mas as dores no joelho provocaram um corte da lista. Desde então, Grafite e Seleção Brasileira viveram um grande hiato. Só vieram a se reencontrar nas vésperas de fechar o grupo que defenderia o país no Mundial da África do Sul no lugar de Adriano Imperador.

Em entrevista ao Superesportes, o atacante do Santa Cruz contou sobre esta relação de apenas quatro jogos e um gol pela Seleção Brasileira. Para ele, no entanto, partidas que foram de grande intensidade. Lembrou detalhes desde o dia em que foi chamado pela primeira vez até os bastidores do grupo de Dunga que acabou eliminado pela Holanda.

Despedida de Romário
Foi uma experiência marcante porque, naquele momento em 2005, estava em um grande momento da minha carreira. Era considerado o melhor jogador em atividade atuando no Brasil. Aí fecharam com a Guatemala e eu tive o prazer de entrar nesse jogo no intervalo. No primeiro tempo, o Romário fez um gol e entrei no lugar dele. Ele se despediu da Seleção e eu entrei no lugar fazendo um gol. Meu primeiro e único gol pela Seleção. Por ser minha primeira convocação, foi muito especial.

Karina Morais/Esp.DP
Convocação para jogo da Irlanda
Quando saiu a convocação, estava em um grande momento no Wolfsburg. Tinha sido campeão, artilheiro e jogador do ano na Alemanha. Eu não fiquei frustrado antes, mas o Luís Fabiano acabou cortado desse jogo. O jogo era na Inglaterra na terça-feira e ele foi cortado na quinta. Engraçado que, na quarta, eu tinha ido dormir fora porque era meu aniversário de casamento com a minha esposa. Quando acordei pela manhã, tinha treino de manhã no Wolfsburg, eu peguei meu celular e vi que tinha acontecido alguma coisa. Quando estava vendo as chamadas, tocou meu celular de novo e era o Jorginho (ex-auxiliar técnico de Dunga). Ele disse que queriam me convocar, mas teria um problema do Wolfsburg não me liberar porque já estava fora do prazo da Fifa e a gente ainda jogaria no domingo pelo campeonato. Aí eu disse a Jorginho: ‘Nem se eu brigar com os caras’. Eles conversaram e acabaram me liberando para o jogo.

Quase barrado na imigração
Quando chegamos em Londres, a imigração queria me barrar. Para entrar na Inglaterra não é fácil. Eu não falava muito inglês na época. Era mais alemão. Eu tentei explicar que iria jogar pela Seleção Brasileira. E fiquei lá enrolando no meu inglês. Fiquei esperando quarenta minutos e acabei sendo liberado.

Concentração e jogo contra a Irlanda
Os dois dias no hotel foi foram até engraçados. O grupo já estava praticamente fechado para ir para a Copa e eu era o estranho no ninho ali. Dunga falava: ‘Esse aqui é o grupo que vai’. E eu ficava pensando: ‘Será que eu vou?’ Aí fomos para o jogo e ele me chamou. Falou para eu entrar e fazer o que sei. Eu sabia que as minhas possibilidades de ir para a Copa eram mínimas. Era 0,001. Eu entrei tranquilo, sem responsabilidade de nada. Melhor talvez do que se eu começasse o jogo. Eu joguei bem, quase marquei o gol e dei passe de calcanhar para Robinho marcar o gol. Depois disso, a convocação final era só em maio.

Choro e surpresa na convocação para a Copa
No dia da convocação, estava na Alemanha. Acabou a nossa temporada no sábado e a convocação seria na terça. O pessoal que seria convocado foi liberado. Os que não ficariam mais uns dias treinando para ser liberado. O Josué (volante) arrumou as coisas dele e foi embora. Eu perguntei: ‘Josué, você tem a lista?’. Ele disse: ‘Não, mas acho que vou ser convocado’. Eu fiquei treinando até a segunda. A convocação foi na terça e era de 12h no Brasil e de 17h na Alemanha. Estava todo mundo lá em casa, minha família, meu assessor e meu empresário. Quando deu 10 minutos para às 17h, eu pensei em ir para fora. Tinha um balanço que a filha brincava. Sentei no balanço e ficou todo mundo lá dentro. Estava todo mundo falando e, de repente, ficou aquele silêncio. De repente, veio uma explosão de grito e a família veio correndo para cima de mim. Eu comecei a chorar. Em nível profissional, é a consagração de um jogador defender as cores do Brasil em uma Copa do Mundo.

“Ambiente na Seleção não é fácil”
Eu não tive muitas oportunidades. Joguei trinta minutos de um amistoso contra a Zimbábue, na preparação (para a Copa), e joguei seis minutos contra Portuga (na Copa). O ambiente na seleção não é fácil. É complicado, né. Nós estávamos na África do Sul e, quando você não está ambientado, é difícil você se ambientar mesmo sendo um jogador experiente. Eu já tinha 31 anos e só tinha fera lá. Kaká, Luís Fabiano, Robinho. Mas eu estava tranquilo, me sentindo bem. Só que eu não consegui me soltar nos treinamentos e desempenhar muito bem. Eu acho que, até por isso, eu não tive tantas oportunidades. Mas, por ter jogado seis minutos contra Portugal, vai ficar na minha memória para sempre.

Esperava mais oportunidades na Copa
Eu não estava muito bem nos treinamentos. Eu não estava sendo uma sombra para Luís Fabiano. Na época, jogou Luís Fabiano e o Robinho. Na reserva, era eu e Nilmar. Acho que, hoje analisando pelo que fiz nos treinamentos, poderia ter alguma chance a mais, mas também entendo o lado de Dunga. Ele viu que eu não estava rendendo o que necessitava para ser uma sombra. Talvez, por isso, não tenha jogado. Por opção tática, também. Mas tudo é experiência na vida. Não vou julgar nada, não. Tiveram muitos episódios lá que aconteceram de muitos jogadores de outras posições que estavam jogando muito melhor dos que estavam jogando. Mas é o futebol. Sempre vai ter aqueles 11 que vão jogar.

Divulgação/CBF

Painel inacabado após derrota para Holanda
No vestiário, foi um clima muito frustrante. Nós tínhamos um painel, no nosso hotel, que era o desenho da Copa do Mundo. A cada etapa que nós passávamos, o Lúcio (zagueiro e capitão da seleção na Copa) ia lá e colava uma parte. Faltavam três. O jogo contra a Holanda, a semifinal e a final. Estava quase montado já. Eu lembro que, aquele jogo contra a Holanda, se a gente tivesse feito dois a zero, teríamos feito três ou quatro fácil. O primeiro tempo teve bola na trave e gol de Robinho. No segundo tempo, teve um toque de calcanhar de Felipe Melo. Alguém roubou a bola, teve um contra-ataque e a Holanda não fez o gol. Tava lá no banco eu, Gomes e Doni: ‘tem que respeitar os caras’. De repente, o jogo virou. O Sneijder fez os dois gols lá. É coisa do futebol.

Holanda com medo do Brasil
No jogo antes contra o Chile, na época, o Maicon (lateral direito) jogava com o Snjeider na Inter de Milão e eles se falavam por telefone. Depois até que ele desligou o telefone, falou: ‘Pô, os caras estão se tremendo todo para jogar contra nós. Os caras falaram: justo vocês agora e tal’. Foi uma fatalidade.

Discurso emocionado de Júlio César no hotel
Depois no hotel, na hora do jantar, alguns jogadores mais experientes tomaram a palavra. O Júlio César fez um discurso emocionante. Chorou. Era um sonho dele e de todos que estavam lá ganhar uma Copa do Mundo. Ele lamentava demais por ter sido o goleiro. Eu acho até que deve ter sido mais frustrante depois na Copa de 2014. Mas ele falou e todo mundo ficou chorando. É complicado porque se sente impotente por ter feito todo um planejamento e um trabalho. A gente não contava em ser campeão. Mas a gente via que tinha condições de ser campeão.

Divulgação/CBF
Dunga: personalidade forte e problemas de bastidores
Eu sou muito grato a ele por ter me dado essa oportunidade. Hoje, se tivesse com a experiência e com a cabeça que ele tem hoje, talvez, ele tivesse dado mais certo. Não que tenha sido um problema para ele, mas a personalidade dele é forte. Todos sabem dos problemas de bastidores que tinha na época, com a própria Rede Globo. Hoje, ele está mais maleável, mais experiente como treinador. Antes, ele não havia sido treinador, mas vinha de um trabalho muito bom na Copa América e na Copa das Confederações. Depois da Copa do Mundo, eu não o encontrei pessoalmente. Talvez, tenha oportunidade nesse jogo (contra o Uruguai) se eu for assistir.

Aprova segunda chance de Dunga
Eu acho que Dunga tem tudo para fazer um grande trabalho. Tem tudo para ser um grande nome entre os treinadores da Seleção. O trabalho dele está sendo bom. Está dano oportunidades aos jogadores e dando sequência. Acho que falta mesmo tempo. O calendário do futebol brasileiro é muito difícil.

Escassez de centroavante na Seleção
Depois que você teve Romário, Ronaldo, Adriano, voltando no passado, Careca, Serginho Chulapa, Roberto Dinamite… só se tiver outros como esses. Mas a gente tem muitos jogadores de qualidade. Temos o Ricardo Oliveira, com 35 anos e sendo convocado. Mas é preciso ter tempo e planejamento. Não adianta apenas apostar no cara que resolve. Hoje, em dia está tendo muito nivelado. O futebol evoluiu e o brasileiro se acomodou. No setor de ataque é difícil. A torcida está acostumada com o jogador que faz três, quatro gols. O próprio Firmino, no Liverpool… tem, quem mais hoje em dia? (silêncio). É complicado, difícil. Mas o Dunga sabe o que fazer. Perdemos um cara importante que é o Diego Costa. Se eu tivesse 25, 26 anos, eu até poderia ajudar (risos). Estou brincando. Quem sou eu para resolver o problema da Seleção? Mas a gente espera que apareça um camisa 9 que nos dê muita alegria.

*Além dos relatos de Grafite e Fabiano Eller, a reportagem solicitou uma entrevista com o técnico do Sport, Falcão, mas ele preferiu não comentar sobre Seleção Brasileira

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