Acima de tudo

Nadadora Mariana Arnaud pausou carreira ao descobrir leucemia do namorado

Atleta trocou a piscina pelo hospital por causa da doença de Marcus Nery

postado em 02/02/2013 09:06 / atualizado em 02/02/2013 09:16

Ana Paula Santos /Diario de Pernambuco

Helder Tavares/DP/D.A Press
Foi um golpe duro de assimilar. Os projetos para 2013 sofreram mudanças bruscas. A nadadora Mariana Arnaud, de 19 anos, há mais de um mês deu uma pausa em seus planos. Em nome do amor, criou uma nova rotina. A piscina cedeu lugar aos corredores e quartos de hospital. Tudo para estar ao lado do estudante de direito Marcus Nery, seu namorado há nove meses, diagnosticado com leucemia mieloide aguda (LMA), no fim do ano passado.

O tempo de relacionamento foi comemorado no setor de oncologia do hospital Português. Marcus vem respondendo bem ao tratamento e os médicos estudam até a possibilidade de conceder alta na próxima quarta-feira. Uma decisão que Mariana aguarda ansiosamente. Tê-lo de volta, após um repentino afastamento, é tudo o que ela deseja.

Na última quinta-feira, Mariana recebeu o Superesportes. Apareceu na sala de seu apartamento, no Espinheiro, ainda sonolenta. É que a vigília no 6º andar do Português persiste. Desde o internamento de Marcus, ela o visita religiosamente todos os dias e só sai de lá perto das 23h. “Não há um só dia que fique sem vê-lo. No começo foi tudo muito difícil, mas agora ele está mais seguro, tranquilo. Só penso que ele vai se recuperar e sair dessa o mais rápido possível”, conta Mari.

“Foi uma questão de escolha e eu fiz a minha. Neste começo de ano, tive a oportunidade de acertar com o estágio dos meus sonhos. Ia trabalhar em um renomado escritório de advocacia que fica localizado na rua da minha casa. Preferi ser honesta com eles e neguei o estágio. Minha vida realmente deu um giro. Tudo o que tinha planejado para 2013 não fiz”, explica a nadadora, que iniciou o namoro com Marcus em 13 de abril de 2012.

Visivelmente mais magra, a longilínea atleta, especialista nos 200m livre e 100m borboleta, na equipe Nikita Natação Sesi/Português, também se afastou das piscinas. Cumpriu as metas da temporada passada. Fechou o ano conquistando a medalha de bronze no Campeonato Brasileiro de Verão, no Rio de Janeiro. “Tenho o maior prazer em nadar, mas ainda não tive coragem de largar tudo por causa do esporte. Volto dos campeonatos muito animada, só que a dura realidade da modalidade desanima. Ultimamente, não tenho sentido a necessidade de fazer planos para o futuro”, comenta Mariana, que escuta todas as vezes em que entra no quarto de Marcus a declaração: ‘Você é minha cura. Agora que você está aqui, tudo melhorou!’ “Por enquanto, isso me basta”, acrescenta a atleta.

O relato de Mariana
A nadadora conta como foram os dias que precederam a descoberta da doença de Marcus e a mobilização para conseguir os doadores.

24 de dezembro

A preocupação
Eu já tinha visto algumas manchas no braço dele. Na noite de Natal, vi outra um pouco maior em relação às outras que já vinham aparecendo e ele, teimoso, sempre dizia que era machucado da academia. Ele tinha ainda um outro machucado no quadril. Deste, inclusive, saiu muito sangue. É tanto que fomos para a casa de um amigo e ele precisou usar um curativo.

27 de dezembro

A angústia
Falei com ele pelo WhatsAPP e ele me disse que estava indo ao hospital, a pedido da mãe. Acrescentou que iria fazer uns exames e voltaria para almoçar em casa. Às 17h, do mesmo dia, a mulher do laboratório ligou para a casa de Marcus e explicou que ele precisava retornar urgente para o hospital. Ele foi, inclusive, de ambulância. E isso a gente continuava se falando pelo celular. Por volta das sete da noite, cheguei no hospital, acompanhada por Murilo, melhor amigo de Marcus. Até esse momento, não tínhamos o diagnóstico fechado, mas já se trabalhava com a hipótese de ser leucemia ou até dengue. Às 22h, liguei para a médica Joana Koury, que uma amiga da minha mãe conhecia e passou o telefone, mas ela já tinha saído do hospital.

28 de dezembro

O choque
Acordei com a Dra. Joana Koury me mandando uma mensagem pelo celular, procurando saber onde Marcus estava. Mais tarde, os pais dele (Paulo Roberto e Suely) conversam com a médica, em uma sala de portas fechada. Suely já saiu da sala dizendo: “Estou precisando de 50 doadores urgente! Marcus vai precisar de sangue”. O diagnóstico estava confirmado. Era mesmo leucemia mieloide aguda (LMA). Neste mesmo dia começamos campanhas pelas redes sociais. Eu, meu pai (Luciano Arnaud) e minha mãe (Ana Isabel) doamos sangue imediatamente. Corri para o Ihene (Instituto de Hematologia do Nordeste) para orientar os amigos que iam fazer a doação. Só sai de lá às 20h e corri para o hospital porque, às 21h, tinha horário de visita. Com a imunidade muito baixa, só consegui vê-lo através do vidro. Marcus não perdeu tempo (ele é muito bem-humorado) e perguntou se iria esperar por ele. Se não iria abandoná-lo. Isso acabou comigo. Chorei muito.

29 e 30 de dezembro

A campanha pela vida
Acordava cedinho e ia direto para o Ihene organizar e ajudar o pessoal a encontrar o cadastro dele e fazer a doação certinha. Eu e uns amigos ficávamos nos revezando nessa tarefa. Passávamos, praticamente, o dia todo lá. Quando fechava o Ihene, por volta das 18h, a gente ia para o hospital. E aos poucos a necessidade pelo sangue foi baixando. Passaram a ser 23 bolsas por dia. Fizemos camisas também e recebi apoio de nadadores de vários estados brasileiros. Gente querendo doar e transferir para o Recife. Joanna Maranhão deu o maior apoio na divulgação da campanha. Nem tinha muito contato com ela, mas ela abriu as portas da mídia para nós.

a atleta Mariana

Melhores tempos

100m
borboleta
1min03s

200m
livre
2min07s

Conquistas em 2012
Medalha de bronze nos 200m livre no Campeonato Brasileiro de Verão
Medalha de prata nos 200m livre no Brasileiro de Inverno
Medalha de bronze nos 100m borboleta no Brasileiro de Inverno