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Referência entre velejadores, Amyr Klink elogia Refeno e pede sustentabilidade em Noronha

Com duas voltas ao mundo e quase 40 expedições à Antártida, Klink bateu um papo com o Superesportes e deu sua opinião sobre a situação no Arquipélago

postado em 15/10/2019 09:10 / atualizado em 15/10/2019 09:17

<i>(Foto: Tsuey Lan Bizzocchi/Cabanga )</i>
Se tem um velejador que entende muito de mares, essa pessoa é Amyr Khan Klink. Paulista e com 64 anos, Amyr é uma pessoa muito respeitada entre quem vive do mar. E não é à toa. O velejador tem no currículo experiências vividas por poucos no planeta. Tem duas voltas ao mundo, quase 40 viagens à Antártica, sendo uma delas de 13 meses no continente antártico, sete deles imobilizado na Baía Dorian, em sua primeira invernagem antártica. Amyr bateu um papo com o Superesportes em Fernando de Noronha durante a 31ª edição da Refeno. 

Amyr não veio para participar. Veio para prestigiar, como explicou. “Acho que o evento não é exatamente uma competição, como é uma de vela. Acho que é uma celebração da experiência de estar em contato com o mar. Estamos indo para um mundo hoje onde não é mais importante as coisas que você conquista e tem, mas as experiências que você adquire. Estar no mar, ser protagonista, ser condutor, e não ser passageiro. E eu estou descobrindo isso agora, depois de 60 anos de idade. O que é muito legal, esse negócio de você ser protagonista. De escolher e participar de um evento, ficar o tempo que quiser, voltar quando você tem vontade”, contou. 

Uma de suas viagens mais conhecidas aconteceu em aconteceu em 1984. Foi a primeira travessia solitária a remo do Atlântico Sul. Por 100 dias, Klink, com apenas 29 anos, remou da costa da Namíbia, na África, até a praia da Espera, na Bahia, Brasil. “Fiz uma travessia a remo que foi uma experiência rica, porque ninguém tinha feito. Quem tentou, morreu. E eu achei que a ideia era completamente estúpida. E eu falei: ‘quem tentar fazer tem que morrer mesmo. E depois, quando comecei a me encantar com os problemas envolvidos, por exemplo, dessalinização a água, não tinha comunicação por satélite, GPS, tinha vários problemas técnicos, não tinha os estudos de corrente de vento e meteorologia. E de repente fui me interessando e dava para resolver. A meteorologia, a parte da comida não para fazer tudo desidratado, mas dá para hidratar metade dos alimentos. E foi uma iniciação”.

Críticas à Noronha

Apesar de não se considerar um palestrante profissional, mesmo tendo em seu currículo mais de 2500 palestras proferidas, no Brasil e exterior, Amyr é uma pessoa vivida. Dentro e fora do mar. Ao ponto dar sua opinião sobre o futuro do planeta. E temas como as manchas de óleo no litoral brasileiro. “Primeiro é a causa. A causa para mim é uma sabotagem. Provavelmente de algum venezuelano. Segundo, é que a gente tem uma consciência muito fluida sobre questões ambientais e de sustentabilidade. A gente tinha que estar preocupado o tempo inteiro”, iniciou o desabafo, antes de dar sua opinião sobre o Arquipélago de Fernando de Noronha.

“Isso aqui para mim é uma intervenção violenta na ilha (apontando para o Porto). Esse porto foi desenhado para viabilizar o desembarque do óleo diesel, para fazer uma estação termoelétrica na ilha que tem a maior incidência de isolação da América do Sul e o melhor vento para a geração eólica. É um absurdo! Esses carros todos que andam aqui tinha que ser destruídos com um morteiro. Fernando de Noronha tinha que ser um exemplo para o mundo de práticas sustentável. E é exatamente o contrário”, explicou.

Para finalizar, exemplificou sobre o que mudaria na Ilha. “Toda vez que venho aqui, fico pensando e escrevendo coisas interessantes que dá para fazer. Por exemplo, tirar o asfalto. Tirar as retas. Ninguém aqui tem pressa. Os caminhos tinham que ser em curvas de nível, que nem as cabras e os bodes. Aí você pega três quilômetros de uma reta no asfalto, com guia, meio-fio e sarjeta. Deus me livre! Tinha que ser um caminho para pedestre, ciclistas, patinetes, carros elétricos”. E por fim. “Estamos ignorando o que vai ser o futuro. Isso aqui seria uma usina de geração de riqueza, de emprego, de alegria e felicidade, se a gente for criterioso”.