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"Elefantes brancos" se multiplicam no mundo

No Brasil, três das arenas da Copa do Mundo de 2014 estão subutilizadas

postado em 05/04/2015 08:01 / atualizado em 05/04/2015 22:17

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Breno Fortes/CB/D.A Press
Mané Garrincha, Arena Pantanal e Arena da Amazônia. Menos de um ano após a Copa do Mundo do Brasil, os três estádios aparecem como grandes elefantes brancos deixados como legado. Juntos, somam prejuízos de R$ 10 milhões desde a final da Copa.

O caso do campo de Brasília é emblemático: utilizado até como estacionamento de ônibus, o Mané Garrincha ainda não foi utilizado em 2015. O jogo do Náutico na última quinta-feira (2/4), contra o Brasília pela Copa do Brasil, a princípio, seria no palco candango da Copa. O clube do Distrito Federal, contudo, optou por levar a partida para o Serejão, em Taquatinga. E a razão é simples: vai poupar 98% do custo para operar o estádio - o Mané Garrincha custaria R$ 80 mil.

Infelizmente, a história é irrefutável em demonstrar que elefantes brancos - como os que começam a afligir o Brasil, e que a Fifa disse que era um problema do país e não da entidade -, são o espólio de todo megaevento. Em Circus Maximus, Andrew Zimbalist aborda o tema, relacionando exemplos de estádios e complexos esportivos que, depois dos jogos, ficaram como abacaxis para suas sedes.

Acerca da declaração do comitê executivo da Fifa, o pesquisador comentou, estupefato, com a reportagem do Superesportes: “É de se ressaltar a falta de sensibilidade da Fifa em dizer a um país que os elefantes brancos que eles ajudaram, e até mesmo exigiram, a construir são um problema do país”, disse.

Em seu livro, Zimbalist lembra o caso do Ninho do Elefante, em Pequim. Um colosso com capacidade para 90 mil pessoas durante a Olimpíada de 2008, que custou 460 milhões de dólares ao governo chinês e que, atualmente, é subutilizado. Servindo apenas para eventos ocasionais, o estádio gera um custo anual de 10 milhões de dólares em manutenção.

Outro caso impressionante é o da Grécia. Sede dos Jogos Olímpicos de 2004, Atenas tem 21 de 22 estádios, arenas, praças esportivas e piscinas construídos para o evento em estado de abandono, precisando de reparos estruturais ou subutilizados.

Carolina Fonsêca/DP/D. A Press
Elefantes africanos
A África do Sul, que recebeu a Copa do Mundo de 2010, foi do sonho da invasão estrangeira à realidade dos elefantes brancos. Quando anunciado, o evento foi vendido aos sul-africanos como a salvação nacional. Criou-se a imagem de que o evento da Fifa, com os “esperados” 500 mil turistas estrangeiros, traria para o país o desenvolvimento. Passados cinco anos do evento, que recebeu não mais de 220 mil estrangeiros, cinco dos dez estádios construídos para a competição são mantidos exclusivamente com dinheiro público.

Estádios como Moses Mabhida (Durban), Green Point (Cidade do Cabo), Nelson Mandela Bay (Port Elizabeth), Mokaba (Polokwane) e Mbombela (Nelspruit) não conseguem cobrir seus custos. Em alguns casos, estudos apontam que seria mais barato, para os cofres públicos, a demolição dos estádios do que pagar pela manutenção ao longo dos próximos anos.

A Fifa, que não gastou um centavo sequer em construção de estádio ou demais obras e muito menos teve que pagar impostos, lucrou R$ 4,7 bilhões com a Copa do Mundo da África do Sul. Enquanto o povo paga a conta. O lucro fica com a iniciativa privada.

 

O "legado" da Euro-2004

A Euro 2004 foi um exemplo da estratégia para o desenvolvimento para o abismo que Portugal seguiu.” A frase impactante é do ex-presidente da Câmara Municipal do Porto (o equivalente a prefeito, no Brasil), Rui Rio. A sua autarquia, que teve dois estádios naquela competição – Dragão (Porto) e Bessa (Boavista) – tem uma dívida de 28 milhões de euros contraída a partir de empréstimos bancários para que pudesse realizar as obras de infraestrutura da cidade, a fim de receber os jogos do torneio europeu de seleções.

A soma do rombo nos cofres públicos será sentida, pelo menos, nos próximos 20 anos. O povo português, que há alguns sofre com a enorme crise financeira e com a austeridade da Troika, vai sentir no bolso o preço da ilusão do “se você construir, ele virá”. Estádios de cidades como Algarve, Coimbra, Aveiro e Leiria vivem às moscas. Os municípios pagam cerca de 55 mil euros por dia para manterem os estádios (entre manutenção e pagamento de empréstimos). Em Braga, onde atua o Sporting Braga e com naming right – Estádio Axa – a prefeitura paga, anualmente, 6 milhões de euros aos bancos, por empréstimos relacionados ao estádio.