Futebol Nacional

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'Sai o Atlético-PR e nasce o Athletico Paranaense'

Colunista do Superesportes analisa mudança de nome e identidade visual do Furacão na véspera da partida mais importante de sua história recente

postado em 12/12/2018 09:00 / atualizado em 12/12/2018 10:20

Divulgação/Twitter oficial Athletico Paranaense
Na véspera do jogo que pode se tornar o mais importante da sua história, o Atlético Paranaense apresentou ao público ontem à noite a sua nova identidade visual - que alterou a grafia do nome, mudou radicalmente o escudo, substituiu o mascote, criou uma nova estrutura da camisa oficial e, fundamentalmente, transformou o conceito do clube fundado em 1924. É natural que a primeira impressão e as primeiras reações medidas nas redes sociais tenham sido as piores possíveis. As mudanças foram alvos de críticas, piadas e memes dos torcedores de outros clubes e - o mais significativo - de revolta da imensa maioria da própria torcida. Considerando, claro, o recorte daqueles que publicaram suas opiniões. Uma das frases mais repetidas foi: “Meu Deus, o que fizeram com o Atlético Paranaense?”. Entretanto, é preciso entender que a quebra da tradição e a estranheza inicial costumam gerar esses movimentos de reprovação imediata. 

O exemplo da Juventus

Aconteceu exatamente o mesmo quando a Juventus de Turim mudou completamente seu escudo em janeiro de 2017 - abandonando o formato tradicional, que já tinha passado por 7 pequenas mudanças desde a fundação do clube em 1905 e uma transformação mais radical que durou 11 anos entre 1979 e 1990. Neste período, o cavalo que ficava na parte interna do brasão se transformou no próprio escudo. Seria algo como o Sport passar a utilizar apenas o Leão. De toda forma, a quebra do conceito só aconteceu mesmo no ano passado, quando o formato tradicional e o cavalo foram substituídos por duas linhas que formam a letra “J”. A rejeição foi absoluta na apresentação e, quase dois anos depois, a adaptação parece completa. Há uma chance do mesmo processo acontecer com o Atlético/PR. Por mais que, neste momento, pareça impossível uma reversão da opinião pública. 

O clube de um homem só

O cerne da questão no caso do clube brasileiro é a intenção de reconstrução completa da sua imagem. E, por trás disso, o que realmente é mais grave é o fato de se tratar de um projeto pessoal do presidente Mario Celso Petraglia, que cada vez mais amplia seu poder sobre o clube (sua intenção incluía até a mudança de cores) - tendo como episódio recente a utilização de camisas pró-Bolsonaro às vésperas da eleição. O STJD, inclusive, aplicou uma multa de R$ 70 mil pela atitude. Utilizar institucionalmente o Atlético para fazer campanha eleitoral é um ato de desrespeito profundo ao seu torcedor. Pela localização geográfica, é possível que a maior parte da torcida até tenha votado em Bolsonaro, mas os que tinham outra visão política foram obrigados a ver seu clube utilizado como plataforma política. E nem entro aqui no mérito de analisar os fundamentos éticos, sociais e humanos do presidente eleito. 

O 12º do país

A base do argumento de Petraglia é a mudar o posicionamento do clube no cenário nacional - tentando romper a barreira de castas geográficas do chamado G12. Particularmente considero que, esportivamente, o Atlético já rompeu essa linha imaginária imposta por uma massificação contínua da mídia do eixo Rio/São Paulo. As duas últimas décadas do clube são impressionantes em todos os aspectos mensuráveis: Estrutura, número de sócios e - algo fundamental - regularidade de desempenhos em alto nível. O clube habita hoje um patamar muito superior ao de Botafogo e Vasco, por exemplo. Mesmo se considerarmos toda a história do futebol nacional, vejo o Atlético em um degrau acima - ou pelo menos, ao lado - do Botafogo. Na comparação com o Vasco, a história e a popularidade do time de São Januário ainda é muito maior. Mas em perspectiva de futuro, o (velho) Atlético tem muito mais. E realmente não vejo como essas mudanças podem acelerar ou solidificar este processo. Pelo contrário. O iminente título da Sul-americana tem um poder de transformação muito maior e, justamente no dia da grande final, o sentimento do país em relação ao clube é de rejeição e antipatia. Algo passageiro? Possivelmente. Mas a acomodação das mudanças são significará que o objetivo foi alcançado.