Copa do Mundo

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Conheça o último técnico que deu um título ao futebol da Rússia

Cigano da bola, Anatoliy Byshovets trabalhou no futebol da Coreia do Sul e de Portugal e venceu o Brasil nos Jogos de Seul, em 1988

postado em 17/07/2018 14:41 / atualizado em 17/07/2018 15:01

Bolshoi Sport/Creative Commons
Moscou — A Rússia se despede da Copa do Mundo com uma dupla nostalgia: saudade dos 30 dias do Mundial e dos 30 anos da última conquista do país no futebol. Em 1988, o técnico Anatoliy Byshovets levou a União Soviética à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul, na Coreia do Sul. Na final, a potência derrotou a melhor seleção do Brasil na história do torneio: 2 x 1.

Comandada por Carlos Alberto Silva, a geração de Taffarel, Bebeto, Romário, Jorginho e Ricardo Gomes amargou a prata. Um resultado inesperado até para Byshovets. O senhor de 72 anos, nascido em Kiev, capital da Ucrânia, conversou por telefone com o Correio sobre aquele 1º de outubro — o dia em que virou herói nacional. Além do título de 1988, ele tem no currículo uma curiosidade. O ex-atacante fez o mesmo número de gols de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, na Copa do Mundo de 1970, no México: quatro.

Cigano da bola, Anatoliy Byshovets trabalhou no futebol da Coreia do Sul e de Portugal. As andanças o fizeram aprender a falar inglês com sotaque russo. Veteranos como ele costumam ser radicais e usam apenas o próprio idioma. O técnico conta que, ao estudar os possíveis adversários na final, depois da vitória por 3 x 2 sobre a Itália na prorrogação, sabia que teria de se contentar com o vice-campeonato. A Alemanha, por exemplo, tinha Jürgen Klinsmann.

“Eu vi a semifinal entre Brasil e Alemanha. Foi incrível, um excelente jogo de futebol. Fiquei impressionado com Bebeto e Romário. Naquele dia, eu decidi que não exibiria a partida para os meus atletas. Poderia passar um espírito de derrota”, explica. Houve empate por 1 x 1 no tempo normal. Nos pênaltis, surgiu um mito chamado Taffarel, e o Brasil avançou: 3 x 2.

Navio

Dias antes da decisão do título, Anatoliy Byshovets tirou o elenco da concentração em Seul. Os jogadores ficaram alojados num navio chamado Mikhail Sholokhov, um escritor soviético vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em 1965, e do Prêmio Lenin, em 1960. “Na Vila Olímpica, há dois sentimentos perigosos: a euforia da vitória ou o desespero da derrota. Não é o melhor ambiente para esporte coletivo, uma seleção que disputaria uma final”, alega.

No navio de cruzeiro marítimo, havia uma quadra de vôlei para treinar futebol e um pouquinho de relaxamento para enfrentar o Brasil. Além disso, o principal: um pedacinho da Rússia no mar sul-coreano. Mal sabia Byshovets que havia tomado a melhor decisão possível.

Um gol de Romário deu toda a pinta de que o Brasil finalmente conquistaria a inédita medalha de ouro no futebol. Quatro anos antes, ele perdera a decisão para a França, em Los Angeles-1984. No entanto, um gol de Dobrovolski, de pênalti, e uma obra-prima de Savichev, encobrindo Taffarel num contra-ataque, decretaram a medalha de ouro da União Soviética.

Segundo Byshovets, a extinta potência conquistou o ouro por um motivo simples: quebrou a sintonia entre Bebeto e Romário. Além disso, havia a organização da equipe soviética. Menosprezada pelos concorrentes, o time disputou 15 jogos — incluindo as fases de preparação e as seis partidas da campanha dourada. Além de fazer um intercâmbio em países europeus para elevar o nível do grupo, ele apelou à religião.

Com a ajuda de amigos italianos, Byshovets conseguiu agendar um encontro com o Papa João Paulo II. O pontífice era fluente em russo e ajudou espiritualmente o treinador a exorcizar os fantasmas. O maior deles, o medo do fracasso olímpico na era da Guerra Fria, quando cada medalha da União Soviética era importante na queda de braço com os Estados Unidos.

Quem é ele

Nome: Anatoliy Fyodorovich Byshovets
Nascimento: 23/4/1946
Local: Kiev, Ucrânia
Clube como jogador: Dínamo de Kiev
Seleção como jogador: União Soviética
Posição: atacante
Clubes/seleções como técnico: União Soviética, Dínamo de Moscou, AEL Limassol, Coreia do Sul, Zenit São Petersburgo, Rússia, Shakhtar Donetsk, Marítimo, Tom Tomsk e Lokomotiv Moscou
Maior título da carreira: ouro nos Jogos de Seul-1988 

Veja os títulos da União Soviética/Rússia

1958: ouro nos Jogos Olímpicos
1960: Eurocopa
1988: ouro nos Jogos Olímpicos

30 anos

Tempo que dura o jejum de títulos da Rússia, herdeira da União Soviética, no futebol 

4

Número de gols marcados por Anatoliy Byshovets na Copa de 1970 pela União Soviética, mesma quantidade de Pelé naquela edição