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Esportes no gelo: 10 atletas já perderam a vida em grandes competições

O caso da brasileira fez voltar à tona a discussão sobre os perigos dos esportes no gelo, às vésperas da Olimpíada de Sochi (Rússia)

postado em 03/02/2014 06:49

Vítor de Moraes /Correio Braziliense

Renato Leite Ribeiro/CBDN
Em 2004, Juliana Veiga disputava uma prova de snowboard, em Chapelco (Argentina). Durante uma subida, a ex-atleta caiu na neve. Um erro na construção da rampa, segundo ela, provocou a queda e uma luxação no braço. Foi o fim da carreira de Juliana, hoje apresentadora de televisão. O acidente da pentacampeã brasileira de snowboard poderia ter entrado na conta de, ao menos, 10 mortes em esportes de neve em grandes competições. A ex-ginasta Lais Souza caiu enquanto esquiava, na última segunda-feira, e permanece em estado grave. O caso da brasileira fez voltar à tona a discussão sobre os perigos dos esportes no gelo, às vésperas da Olimpíada de Sochi (Rússia). Nos Jogos de 2010, em Vancouver (Canadá), o georgiano Nodar Kumaritashvili morreu enquanto praticava o luge.

Desde 1964, quando duas mortes marcaram os Jogos de Innsbruck, ao menos 10 atletas sofreram acidentes fatais. Naquele ano, Ross Milne, de apenas 17 anos, faria sua estreia em Olimpíadas, mas, antes do início dos Jogos, chocou-se contra uma árvore. Em muitos dos casos, a perda do controle causou as mortes. Na avaliação de Juliana, a vivência sobre a neve é essencial para se evitar acidentes. “Os esportes de inverno geram um risco maior, eles exigem experiência no contato com a neve. Não é como o futebol, onde se pega uma bola e se joga na terra”, compara.

Veiga admite a periculosidade dessas modalidades, mas sempre reiterando a importância dos anos de convivência com a neve. O contato com o gelo é sutil e requer anos de conhecimento. Juliana profissionalizou-se quatro anos após o início no snowboard. “Acidentes ocorrem porque a gente se expõe aos riscos. Mesmo com cercas de segurança ao redor da pista, há morte”, lamenta. Juliana se refere ao acidente na Copa do Mundo da Suíça, em 2012, quando o canadense Nick Zoricic se chocou contra redes de segurança, ao descer de um salto, e morreu na hora.

Diante das fatalidades nos esportes de inverno, federações prometeram, ao longo dos anos, empenho para preservar a integridade física dos atletas, embora algumas práticas adotadas sejam controversas. O esquiador norte-americano T.J Lanning reclamou, em 2009, após alguns acidentes, da maneira como o gelo é artificializado. Segundo Lanning, a injeção de água torna a rigidez do piso semelhante ao concreto.

Classificada aos Jogos de Sochi, a snowboarder brasileira Isabel Clark, entretanto, vê a prática de outra forma. “É comum as estações de esqui fabricarem neve de maneira artificial para garantir boas pistas. No meu esporte, elas são de neve fabricada, o que é até melhor, porque fica mais firme e em melhor estado”, explica a pentacampeã sul-americana. Ainda assim, Isabel tem reclamações. “Capacetes mais resistentes deveriam ser desenvolvidos. Os atletas sempre buscam o rendimento máximo e, afinal, sempre existe um certo risco”, admite.

Velocidade contribui
O aumento da velocidade em esportes no gelo é notável. O avanço da tecnologia permite aos atletas ultrapassarem marcas antigas ano a ano. Em 1982, o esquiador canadense Ken Read venceu a Copa do Mundo (3.200m) com o tempo de 2m4s, a uma velocidade de 92 km/h. Dez anos depois, o suíço Franz Heinzer fez o mesmo trajeto em 1m56s, a 98 km/h. Hoje, os esquiadores chegam a 140 km/h.

Entusiasta da alta velocidade, Juliana Veiga alia a crescente rapidez dos atletas em provas como inerente à ambição deles. “É altamente prazeroso. É assim em corridas, no triatlo. O corpo humano vai aumentando seu limite conforme se sente preparado. Não tem como dizer que poderia ser mais devagar. É um espetáculo”, defende. “O esporte não deixará de ser veloz por uma questão de risco”, completa.

O bobsled, modalidade abrangida pela Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), chega a 150 km/h e comporta até quatro atletas em um trenó. Ainda assim, essa velocidade pode ser ampliada, caso surjam novos meios para isso. “Se houver uma nova tecnologia no bobsled que faça o trenó ir mais rápido, eles vão mudar. Mas pode-se chegar ao ponto de ter de mudar parâmetros para a velocidade não aumentar indefinidamente, como fez a Fórmula 1”, compara o presidente da CBDG, Emílio Stavasson. O material empregado na fabricação do trenó é o mesmo utilizado em carros de F-1, que terão o motor V8 substituído pelo V6 na próxima temporada.

DEZ ACIDENTES FATAIS EM ESPORTES DE INVERNO

Bobsled
Em 1966, o italiano Sergio Zardini dirigia um trenó de bobsled no Troféu Diamante, nos Estados Unidos, quando perdeu o controle em um zigue-zague. Zardini bateu a cabeça contra uma parede e morreu na hora.

James Morgan, conhecido como Nitro, sofreu um acidente fatal durante o Mundial de 1981, na Itália. O norte-americano guiava um sled para quatro pessoas e, na última volta, o trenó virou. Morgan quebrou o pescoço e morreu no mesmo dia.

Esqui alpino
O suíço Nicolas Bochatay treinava para uma prova, na Olimpíada de Albertville (1992), quando se chocou contra uma máquina que estava próxima à pista. O esqui alpino era modalidade de exibição naqueles Jogos.

Aos 17 anos, o australiano Ross Mine se preparava para estrear em uma Olimpíada, em 1964. Entretanto, antes do início dos Jogos, ele perdeu o controle em uma descida e bateu em uma árvore.

A austríaca Ulrike Maier morreu durante uma prova da Copa do Mundo de 1994. Ela caiu e se chocou contra a neve em Garmisch- Partenkirche, na Alemanha.

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Esqui cross-country
Em 2012, durante a Copa do Mundo da Suíça, o canadense Nick Zoricic calculou mal um salto e caiu fora da pista, chocando-se contra redes de proteção. Zoricic morreu na hora



Esqui estilo livre
Uma das responsáveis pela inclusão da modalidade em Olimpíadas, a canadense Sarah Burke morreu em janeiro de 2012, enquanto treinava em Utah (EUA).

Luge
A perda mais recente de um atleta de esportes de inverno foi nos Jogos de Vancouver, em 2010. Nodar Kumaritashvili, da Georgia, chocou-se contra um poste de metal, a cerca de 140 km/h. Ele foi levado a um hospital, mas morreu no trajeto.

Nos Jogos de Innsbruck (1964), o polonês naturalizado britânico Kazimierz Kay-Skrzypeski morreu depois que seu trenó saiu da pista.

Snowboard
O snowboarder suíço Daniel Loetscher morreu em 2000, em uma prova no Mundial na Suíça. O atleta perdeu o equilíbrio e bateu a cabeça em um pilar que marcava o fim da linha.