Mais Esportes

RIO 2016

Atletas deixam o Brasil para se preparar para as Olimpíadas

Na fase final de preparação, atletas do país deixam para trás família e amigos e vão treinar em nações com melhor estrutura e mais tradição do que o Brasil em determinadas modalidades

postado em 03/11/2014 14:37

Rodrigo Antonelli /Correio Braziliense

REUTERS/Yuya Shino

O ciclo olímpico para os Jogos Olímpicos do Rio-2016 já passa da metade e, a partir de agora, os atletas começam a entrar na fase final de preparação com o objetivo de chegar à competição no auge da forma. Para muitos deles, principalmente nos esportes de menos tradição no Brasil, isso significa ir morar longe da família, às vezes em países de cultura extremamente diferente. Só no último mês, por exemplo, seis deles — cinco mesa-tenistas e um ciclista — arrumaram as malas para ir treinar e competir na Europa até as vésperas do evento.

A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) fez parceria com clubes da Alemanha e levou cinco jogadores para o país, um dos principais centros do esporte no mundo. Eles vão treinar e disputar competições internacionais. “Temos menos de dois anos até os Jogos Olímpicos, e esse tipo de oportunidade é que pode fazer os atletas brasileiros alcançarem outro patamar. Eles vão ganhar experiência internacional e jogar contra os melhores do mundo”, avalia Jean-René Mounie, francês, técnico da Seleção Brasileira da modalidade.

Revelação do esporte no país, o jovem Hugo Calderano, 18 anos, assinou com o time mais forte da Alemanha, o Ochsenhausen. “É difícil ficar longe da família e dos amigos, mas sei que é uma etapa muito importante para eu chegar com força ao Rio em 2016. O clube tem uma das melhores estruturas da Europa e vai me dar condições de ficar entre os grandes”, comemora o atual campeão nacional e uma das principais esperanças de medalha para o Brasil na modalidade. “O mais importante é que vou jogar com os atletas do top 100 com mais frequência”, emenda.

A Confederação Brasileira de Esgrima (CBE) é outra que aposta na preparação no exterior. Três dos esgrimistas do país com mais potencial de medalhas no Rio-2016 treinam na Itália, reduto dos melhores do mundo, com apoios logístico e financeiro da entidade: Renzo Agreste (sabre), Athos Scwantes (espada) e Guilherme Toldo (florete).

Toldo disputou os Jogos de Londres, em 2012, aos 19 anos, e logo após sua desclassificação, ainda na segunda fase, percebeu que precisaria sair do país se quisesse encarar os principais rivais e fazer bonito daqui a dois anos. “Eu vinha de bons resultados no Brasil e não imaginei que seria eliminado logo”, lembra. Segundo ele, foi ali que viu a necessidade de ir para o exterior e conhecer outros métodos de treinamento. “O Renzo já estava por lá e sabia que encontraria um ótimo suporte para melhorar. O período fora foi essencial para que eu crescesse no esporte”, conta Toldo, já de volta ao Brasil.

Intensivo
Sem campo e sem instalações adequadas para a prática no Brasil, a Seleção de hóquei na grama, que ainda luta por vaga nas Olimpíadas, decidiu passar três meses na Holanda, entre julho e setembro deste ano. As 12 semanas em solo europeu foram intensas e renderam à equipe o terceiro lugar na primeira rodada da Liga Mundial. A competição é disputada em setembro, em Guadalajara, e conta com algumas das melhores seleções do planeta na modalidade, além de nações que tentam se desenvolver no esporte.

“Foi um resultado que coroou nosso empenho e nossa dedicação no último ano. Abrimos mão de estar com a família grande parte do tempo para focar só no esporte”, ressalta Bruno Mendonça, capitão do time. A ideia da Confederação Brasileira de Hóquei na Grama é repetir intercâmbios como esse antes dos Jogos Pan-Americanos de Toronto-2015 e das Olimpíadas. “O ganho técnico é nítido. Atuamos contra equipes fortes da liga holandesa e reforçamos nosso jogo. Temos de continuar nesse ritmo intenso se quisermos ficar entre os melhores”, avalia o técnico, Cláudio Rocha.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) apoia a realização de estágios internacionais e possibilita viagens a equipes para que elas ganhem experiência internacional. A entidade não considera a fuga para o exterior como atestado da estrutura precária de alguns esportes no país. “O nosso trabalho consiste em dar a melhor condição possível para o atleta alcançar seu resultado máximo. O esforço diário é para que o atleta brasileiro tenha a certeza de que conseguiu, no mínimo, a mesma condição que o competidor ao lado”, explica Marcus Vinícius Freire, diretor executivo do COB. “O que acontece é que em alguns esportes ainda não temos tradição e estamos criando uma estrutura.”