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Mesatenista brasiliense vira partida e avança às quartas de final

Aos 38 anos, Carla Azevedo mostra poder de reação e busca a segunda medalha na história da competição continental. Atleta se divide entre o jornalismo e os treinos esportivos

postado em 24/08/2019 00:09 / atualizado em 24/08/2019 00:42

<i>(Foto: Daniel Zappe/CPB/MPIX)</i>
 
Lima - É comum que atletas trilhem carreira de jornalista após a aposentadoria do esporte. Mas Carla Azevedo fez o caminho oposto. De uma entrevista como estudante de jornalismo ainda no primeiro semestre, surgiu o convite para experimentar o tênis de mesa. Nunca mais largou a raquete e a bolinha, apesar de ter cogitado abandoná-los há nove meses. A volta na decisão foi em função da conquista da vaga para disputar os Jogos Parapan-Americanos em Lima, após mais de uma década. No intervalo, porém, ela cobriu a última edição do evento, em Toronto-2015, como repórter.
 
“Jornalista está torcendo, fica feliz pelos competidores, mas ganhar como atleta é legal demais. Assim como perder como competidor é muito pior também, porque sabemos o quanto nos dedicamos”, compara.
 
Aos 38 anos, Carla é uma das veteranas do Brasil na competição. A brasiliense jogou o primeiro Parapan-Americano da carreira no Rio-2007, quando levou a medalha de prata por equipe. Nas duas edições seguintes, de Guadalajara-2011 e Tóquio-2015, não se classificou. Então, foi como jornalista para cobrir o último evento, no Canadá. Na capital peruana, ela volta à arena do tênis de mesa como esportista. “Agora, estou me sentindo”, brinca. 
 
Nesta sexta-feira (23/8), Carla venceu de virada a argentina Verônica Blanco por 3 sets a 2. O resultado classificou a brasiliense para as quartas de final, que serão disputadas hoje, às 14h, contra a mexicana Maria Sigala, da classe 3, uma acima da brasileira, que pertence à classe 2 (com menos mobilidade). As duas classes foram unidas no Parapan de Lima por falta de competidores, algo comum no esporte paralímpico. O semblante de Carla após a classificação era completamente diferente ao do dia anterior, quando enxugava discretamente as lágrimas durante a entrevista após a derrota para a norte-americana Pamela Fontaine, por 3 sets a 1. 
 
“Cheguei arrasada daquele jogo. Saí triste mesmo, dormi mal e fiquei pensando que eu estava em desvantagem para enfrentar a argentina”, conta. Depois da estreia, Carla deixou a arena às 21h e dormiu à meia-noite. Às 5h, acordou para se aquecer e, às 9h, iniciou o duelo emocionante. “Estou bem feliz, ainda tenho esperança de ir para Tóquio, curtindo tudo que posso do Parapan”, comemora. O torneio em Lima vale como classificatório para as Paralimpíadas, que serão sediadas pelo Japão no ano que vem. 

Rotina exigente de trabalho


A atleta jornalista tem uma rotina exigente para manter as duas atividades. Acorda às 5h para se arrumar para o trabalho na TV Brasil, que finaliza às 13h. À tarde, mescla atividades de fisioterapia, academia e treinos. Às sextas-feiras, ainda tem aula de dança com o grupo que ela própria fundou, chamado street cadeirante. “Eu montei o grupo de dança, porque me aposentaria do esporte até conseguir a vaga na seletiva”, conta a esportista cadeirante, que, aos 17 anos, teve a cervical atingida por um sangramento espontâneo na medula. 

As duas profissões continuam reservando a Carla situações inusitadas. A que despertou o interesse pelo tênis de mesa foi originada pelo convite do também mesatenista Iranildo Espíndola, atual recordista de medalhas de ouro individuais do país na modalidade, que busca o pentacampeonato da classe 2 no Parapan-Americano de Lima, aos 50 anos. Foi o entrevistado que convidou a brasiliense para experimentar o esporte há 15 anos. Agora, os dois voltam a se encontrar na maior competição das Américas. O atleta goiano venceu as duas partidas que disputou e pega o canadense Peter Isherwood neste sábado (24/8), às 10h40, pelas quartas de final. 

“No meu primeiro Parapan, em 2003, o Iranildo me ensinou a comer sozinha, com o garfo sem precisar de adaptação”, lembra. Em Lima, foi a vez de aprender com a compatriota Cátia, de 28 anos, como abrir o zíper da jaqueta. “O segredo da vida é aprender em tudo, com as dificuldades, as derrotas e os problemas. Assim todo sofrimento vira aprendizado e nos tornamos pessoas melhores, em vez de pensarmos que somos derrotados”, encerra, com um largo sorriso no rosto e mensagens de carinho a Brasília. 
O Brasil garantiu 11 atletas nas quartas de final do tênis de mesa, 12 semifinalistas e um finalista nas disputas. Neste sábado, cinco modalidades estreiam na competição: atletismo, basquete em cadeira de rodas, futebol de 5, futebol de 7 e judô. 

* A repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro