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PARAPAN DE LIMA

Cachorro de rua que virou xodó brasileiro no Parapan ganha lar em Brasília

O Brazuca, um vira-lata que se instalou no prédio do Brasil na Vila dos Atletas de Lima, foi adotado por jogador de parabadminton

postado em 26/09/2019 15:24 / atualizado em 26/09/2019 16:20

<i>(Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)</i>
A maior competição esportiva das Américas deste ano teve uma curiosidade com doses extra de fofura. Havia cachorros por todos os lados na Vila dos Atletas dos Jogos Pan e Parapan-Americanos de Lima. A maioria dos animais contava até com credenciais no pescoço. Alguns já viviam no local antes de o complexo esportivo ter sido construído, mas foram vacinados, castrados e ganharam documentação para caso fossem adotados. Um dos animais que não tinha nada disso, porém, se instalou no prédio da delegação brasileira e acabou como xodó dos atletas. Batizado de Brazuca, ganhou um novo lar em Brasília.

Brazuca é um vira-lata com aproximadamente oito meses, segundo veterinário que o atendeu. Tem porte médio, pêlos cor de caramelo e olhos verdes. “Não sei como ele entrou na Vila dos Atletas, porque não tinha crachá. Mas ele só ficava na porta da delegação do Brasil”, conta Jacqueline Algarra-Ramos, voluntária peruana que começou a cuidar dele em Lima, cidade tomada por animais de rua. O Brazuca chegou na Vila dos Atletas só no início do Parapan, semanas após o fim do Pan-Americano.

“Se eu ia para o restaurante, para o banheiro ou qualquer lugar, ele ia atrás”, conta a peruana de 29 anos. Quando o Brazuca não estava atrás de Jacqueline , bastava procurá-lo na porta do prédio do Brasil. Logo, o perrito (cachorrinho, em espanhol) caiu nas graças dos atletas e da comissão brasileira. Quem passava por ele, dava comida, fazia carinho ou se rendia às brincadeiras dele. Em pouco tempo, ele ganhou roupa para encarar o frio, cama improvisada e até nome: Brazuca, que inclusive foi fixado no cantinho que diziam já ser dele.

Brazuca fica doente


Tamanha fartura de comida, porém, provocou uma infecção intestinal no Brazuca. Jacqueline o levou para o veterinário e uma força tarefa foi instaurada para cuidar dele. “Colocamos um recado para não dar mais comida para ele e compramos ração”, conta a brasileira Amaranta Adjuto Veloso, membro do Comitê Paralímpico Brasileiro que também se apaixonou pelo mascote da delegação do Brasil e fez a diferença na atenção com ele. Entre tantos atletas que o Brazuca conquistou, estava a velocista Verônica Hipólito, que voltou do Parapan de Lima com três medalhas de prata no atletismo.

Verônica e Amaranta bancaram os custos de ração, banho, antipulga e todo o tratamento veterinário dele em Lima. “O Brazuca é sensacional, muito carinhoso e fico feliz que a história dele tenha tido um final feliz”, comemora Verônica. A medalhista paralímpica conta que teve vontade de adotar todos os cachorros que via por lá. “Eles trazem o amor mais puro. Não se importam com a condição financeira, se tem deficiência, se é alto, gordo, baixo ou magro, tipo do cabelo ou cor da pele, eles te amam do mesmo jeito e esperam sempre com o rabinho abanando.”

Corrida por documentos para adoção


Os competidores de parabadminton chegaram em Lima só na segunda semana do Parapan, porque estavam em outra competição. Quando o brasileiro Rômulo Júnior Soares chegou na Vila Parapan-Americana, o Brazuca já estava lá. Durante o restante da competição, uma cena se tornou comum: Rômulo fora da cadeira de rodas, sentado no chão aos beijos e abraços com o cachorro. “Eu adorei ele de primeira, mas tinha de me manter concentrado no meu objetivo, que era conquistar a medalha de prata”, diz. 

Amante dos animais, Rômulo já havia mostrado interesse em adotar o Brazuca. “Na condição que ele estava, já debilitado da saúde, eu não consegui considerar a possibilidade de ele continuar na rua e correr o risco de não resistir”, explicou o esportista que mora em Brasília. Em quadra, ele cumpriu a meta: subiu ao pódio ao lado do parceiro Rodolfo Cano, na disputa de duplas do parabadminton. Enquanto isso, Jacqueline levava o Brazuca ao veterinário e corria atrás dos documentos para que pudesse ser levado a outro país, afinal ele não passou pelos procedimentos dos outros cachorros que estavam com crachá.

“Ele deu um jeitinho de entrar e ficar na Vila dos Atletas, foi o peruano mais brasileiro que podia ter”, brinca Rômulo. “Eu não sei quem teve mais sorte, ele ou eu”, completa, com o sorriso largo. Apesar de os funcionários avisarem Jacqueline que o procedimento poderia levar até 20 dias, ela não desistiu. “Eu sabia que precisava ser bem mais rápido, porque essa era a chance de o Brazuca receber os cuidados que ele precisava e deu certo”, comemora. A voluntária que o chama de “bebezinho” não pôde adotá-lo por morar em uma casa pequena e já ter gatos.

Viagem para Brasília e pneumonia 


Na volta para casa, o destino final de Rômulo e do Brazuca era Brasília. A viagem tinha uma parada  em São Paulo e, na hora de pegar outro avião para embarcar para a capital federal, o atleta soube que a companhia não transportava animais. O cachorro, então, ficou com o parceiro de dupla no badminton e com a esposa dele, que moravam em São Paulo. Três dias depois, o casal amigo de Rômulo encarou mais de 1 mil quilômetros de carro para levar o Brazuca até a nova casa, na capital brasileira. O receio de colocá-lo em um avião era porque um novo diagnóstico veterinário apontou que o Brazuca estava com pneumonia. 

Em Brasília, o mascote da delegação brasileira contou com os cuidados de Rômulo em tempo integral. Após a conquista da prata no Parapan, o atleta deu uma pausa nos treinos de segunda a sábado. O objetivo foi se dedicar integralmente ao novo membro da numerosa família. Na nova casa, localizada no Jardim Botânico, o Brazuca ganhou quatro irmãos: o Kiko Ramón, a Captu Lima, a Lilica Dayane e a Tica Frida. “Eu estava preocupado de ele implicar com o Kiko, que é macho, mas eles se deram superbem, já se entendem como irmãos”, celebra. “O Brazuca faz tudo ficar mais fácil, ele é muito bonzinho”, completa.

Veja o vídeo do Brazuca na nova casa em Brasília