Mais Esportes

ENTREVISTA

Meta do COB para Olimpíada de Tóquio é superar medalhas da Rio-2016

Veja entrevista com Paulo Wanderley, à frente do Comitê Olímpico do Brasil há dois anos, após escândalos com a gestão de Nuzman

postado em 14/10/2019 08:00 / atualizado em 13/10/2019 19:49

<i>(Foto: Guilherme Taboada/COB)</i>
O ano que antecede os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 não conta com metade do entusiasmo visto antes da Rio-2016. Desde a festa do maior evento esportivo em solo brasileiro, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) caiu em uma crise sem precedentes na história da entidade: prisão e renúncia do então presidente Carlos Arthur Nuzman em 2017 e a suspensão provisória do COB pelo comitê internacional. Em meio a esse caos, há exatos dois anos, o então vice-presidente Paulo Wanderley assumia no lugar de Nuzman.

Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, o atual mandatário do COB explica o que fez de diferente em relação à gestão de Nuzman para reconquistar a credibilidade internacional e crava o objetivo do Brasil nas próximas Olimpíadas: “melhorar o resultado da Rio-2016”, em que a delegação brasileira fez a melhor campanha da história. Como país anfitrião, o Brasil conquistou 19 medalhas (sete ouros, seis pratas e seis bronzes), terminando na 13ª posição do quadro de medalhas.


O que sua gestão fez nesses dois anos à frente doCOBde diferente em relação ao ex-presidente Carlos Arthur Nuzman, que renunciou ao cargo após ser preso?
Demos continuidade aos bons planos que existiam e implementamos algumas situações novas, por conta até do momento da época, com foco especial em boa governança e boas práticas administrativas. 

Quais foram essas iniciativas?
Logo que assumimos, houve uma comissão de revisão estatutária e foram implementadas práticas que não existiam no COB nem na maioria das organizações esportivas. Antes, tínhamos apenas um representante dos atletas no COB e, hoje, são 12 (com direito a voto na assembleia geral). Anteriormente, eram sete membros indicados e, agora, são 15, todos com cargos eletivos. Foi criado um conselho de ética, composto por cinco membros, todos eleitos. Fizemos uma reestruturação do comitê olímpico, adequando necessidades do momento econômico do país e da própria organização. Criamos também uma diretoria de ensino, prevenção e controle do doping, uma área bastante atuante nos dois últimos anos.

Como o COB vem trabalhando para reconquistar a credibilidade internacional após a crise que acarretou na prisão do Nuzman e na suspensão da entidade?
Isso aconteceu em outubro de 2017 e em fevereiro do ano seguinte já estávamos em conformidade com o Comitê Olímpico Internacional. Essas exigências vêm dentro da agenda que eles chamam de 2020, que faziam parte das questões de conformidade e boas práticas de governança das entidades dos comitês olímpicos nacionais. Recuperamos isso e, hoje, temos representatividade em diversos organismos internacionais.

<i>(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)</i>

Como o COB tem colaborado com confederações que enfrentam graves crises financeiras, como a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA)?
Temos o programa de Gestão Ética e Transparência (GET), que é o controle, ensino e desenvolvimento de uma gestão ética e transparente no esporte. Vamos às confederações, identificamos as dificuldades e colaboramos para que isso venha a ser melhorado ou implementado conforme a situação de cada caso. E, para nossa satisfação, das 33 confederações, temos 30 dentro desse programa. O GET não é um programa obrigatório, então, às vezes, a confederação tem isso implementado na organização e não sente necessidade de aderir.

Sobre as próximas Olimpíadas, em Tóquio, é possívelfazer uma projeção?
Do ponto de vista administrativo, tudo o que tinha de fazer foi feito, inclusive com procedimento de mapear as instalações para que elas ofereçam condições de aclimatação, fator muito importante. A logística está pronta, muitos dos nossos esportes, como vôlei, atletismo, judô e vela, fizeram aclimatação, intercâmbio e treinamento no Japão, testando as instalações e condições climáticas.

Qual a expectativa sobre quantidade de atletas que conseguirão se classificar para representar o Brasil em Tóquio?
Com relação ao desempenho, o Brasil conquistou no Pan-Americano mais 29 vagas para os Jogos Olímpicos. Tínhamos previsto em torno de 250 atletas, mas acredito que superaremos essa meta de classificação olímpica. 

E qual a projeção de medalhas?
Nosso objetivo é superação. Precisamos ter mais eventos que estão programados para este segundo semestre e início do ano que vem de classificação das nossas modalidades para ter um balizamento mais detalhado. É prematuro citar os números específicos de medalhas. A intenção é melhorar o resultado dos Jogos do Rio, quando 12 modalidades tiveram medalhas ou disputaram finais. Nosso objetivo é
aumentar em Tóquio. Não vamos ficar atrás de 2016.

O Brasil não terá a participação da ginástica artística feminina por equipe, e o basquete masculino corre sério risco de também não se classificar. Como avalia essas ausências?
O esporte não é matemático, não tem como prever o que vai acontecer. Há situações históricas exemplares de atletas que eram cotados como pódio e não aconteceu. Mas assim como tiveram modalidades que perderam oportunidade ou têm a perspectiva de não estar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, temos outras que podem complementar, como surfe, skate e karatê.

<i>(Foto: Jack GUEZ/AFP)</i>

De que forma as mudanças de patrocínio das entidades federais, como da Caixa, vêm impactando o esporte olímpico brasileiro?
São condições do momento que o Brasil atravessa. Após as Olimpíadas de 2016, por uma confluência de fatores, houve uma retração de patrocínios de empresas estatais e privadas ao esporte como um todo. O COB não é afetado diretamente, porque nossos recursos advêm das apostas das Loterias e isso tem sido um crescimento orgânico de ano para ano. Mas houve um decréscimo desses investimentos diretamente ao esporte, às confederações e às modalidades. O COB tem feito a sua parte, prospectando patrocinadores no mercado. Temos conquistado, mas não no volume necessário, porque o esporte de alto rendimento é caro realmente.

Como vem sendo a relação do COB com o governo federal?
Não temos patrocínio governamental ou estatal. Se alguém quiser nos patrocinar, será muito bem-vindo. Com relação a esse convívio com o governo, houve uma transição, mas foi tranquila no que se refere ao COB. 

As casas de apostas vêm sendo debatidas fortemente entre os clubes de futebol. Vê essa alternativa como possível gerador de renda também para o esporte olímpico?
Esse é o assunto do momento, é muito interessante e desperta curiosidade. Vamos com muita cautela em relação a isso, mas vejo com bons olhos. Se chegarmos à conclusão de que é viável e benéfico ao esporte e aos nossos atletas, por que não?

Quais são os próximos desafios da sua gestão à frente do COB?
Por mais que tenhamos melhorado a questão de governança, transparência e otimização dos recursos, se não vier medalha, seremos cobrados por isso. Então, o foco total agora é voltado para as Olimpíadas de Tóquio. Naturalmente, continuamos trabalhando com a questão
de governança do esporte brasileiro. É fundamental esse cuidado de manter e melhorar cada vez mais a imagem do esporte olímpico do país.

Existe a intenção de se candidatar a um novo mandato no ano que vem para uma gestão que iria até 2024?
Vou pegar minha bola de cristal (risos). Cada dia com a sua agonia, vamos em frente.