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ESPORTE PARALÍMPICO

Como a pandemia impactou planos rumo a Tóquio de Leomon, o CR7 do goalball

Casamento, lua de mel esticada, montaria, torcida pelo Santos e treinos adaptados fazem parte da quarentena do atleta brasiliense

postado em 22/09/2020 10:14 / atualizado em 22/09/2020 10:49

(Foto: Douglas Magno/ EXEMPLUS / CPB)
Eleito o melhor do mundo na conquista do bicampeonato mundial de goalball com o Brasil, em Malmo-2018, na Suécia, o brasiliense Leomon Moreno adiou o sonho de buscar o ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio por causa da pandemia de covid-19. Ainda assim, não faltam novidades e bom humor à estrela da modalidade.

O atleta de 26 anos casou-se com a também jogadora de goalball Milena Nogueira, 21 anos, em 14 de março, e teria de pegar o avião no dia seguinte para participar de um evento-teste das Paralimpíadas de Tóquio. A competição começaria em 25 de agosto. Com a pandemia, a lua de mel, que seria adiada, acabou esticada.

“Eu ficaria sem lua de mel e acabei tendo uma lua de mel de seis meses”, brinca Leomon. “Como a minha esposa também é atleta, foi muito legal um incentivar o outro na quarentena. Eu tenho um pouco mais de experiência do que ela no goalball, então, compartilho o meu conhecimento e conversamos bastante sobre o esporte, tática, posicionamento e como é importante estar bem física e mentalmente”, completa.

O apoio pesou positivamente no momento de incerteza no início da quarentena, quando as competições foram adiadas — como as Paralimpíadas, remarcadas para agosto de 2021— ou canceladas, como o calendário brasileiro do goalball em 2020.

(Foto: Arquivo pessoal)
Dono de uma prata paralímpica em Londres-2012 e de um bronze na Rio-2016, Leomon comprou um kit de elásticos para exercícios funcionais ao saber que precisaria treinar em casa. Depois, compartilhou nas redes sociais as adaptações inusitadas criadas na quarentena. “Usei cadeira, cavalete, caixa de som para ajudar na musculação para não diminuir muito a intensidade dos exercícios da academia”, conta.

A adaptação à vida de casado foi tranquila. “Eu morava sozinho desde os 20 anos e fazia tudo no meu apartamento antes. Agora, com a minha esposa, ficou tudo mais fácil. Ela enxerga um pouco mais do que eu, e isso só ajudou”, comenta. 

Os dois são atletas do Santos e conheceram-se no clube, no litoral paulista, onde passaram a morar após o casamento. A modalidade desenvolvida exclusivamente para pessoas com deficiência visual conta com três categorias em cada gênero. A B1, de Leomon, engloba jogadores com menos visão.Há também a B2 e a B3, essa última é a da Milena, que consegue enxergar a tela do celular, por exemplo, se aumentar as letras e olhar bem próximo.

Paixão por cavalos


(Foto: Arquivo pessoal)
Com a suspensão das competições, Leomon e Milena aproveitam a rotina mais tranquila para visitar as famílias. A dela, em São Miguel Arcanjo, a 190km de São Paulo; e a dele, em Brasília. 

Na capital federal, o jogador não perde a oportunidade de desfrutar de outra paixão: os cavalos. Tutor de cinco animais criados por ele em uma chácara no Gama, Leomon convenceu a esposa a vencer o medo de montar. Atualmente, ela até o desafia para uma corrida a cavalo.

O porta-bandeiras do Brasil na abertura dos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019, há um ano, quando liderou a entrada da delegação de 337 atletas na capital  peruana, comprou o primeiro cavalo aos 20 anos com dinheiro do esporte. Mas, desde os 16, já trabalhava como massoterapeuta para ajudar a mãe em casa. Hoje, a profissão é exercida pelos irmãos Leandro e Leonardo — ex-jogadores de goalball que influenciaram Leomon a praticar o esporte.

Mesmo no auge da carreira, aos 26, o principal jogador brasileiro de goalball
da atualidade planeja o futuro fora das quadras. Entrou para o curso de jornalismo neste semestre. “Na quarentena, comecei a acompanhar mais o trabalho do jornalismo, penso na transição de carreira do esporte e quero muito dar uma maior visibilidade ao esporte paralímpico”, projeta.

Enquanto não volta a competir, Leomon segue os treinamentos. Ele divide a
rotina ao lado da esposa com a oportunidade de também torcer, não apenas no goalball, pelo clube que defende. “Qualquer atleta quer acompanhar competição e os esportes com mais investimento estão voltando. Enquanto eu não posso jogar, torço pelo Santos no futebol”, conta. 

A relação com o esporte mais popular do mundo não é nova. Em Portugal, Leomon é conhecido como o Cristiano Ronaldo do goalball. Ele foi o primeiro brasileiro contratado por um clube da Europa para disputar o torneio continental pelo Sporting e abriu as portas para a contratação de outros estrangeiros no maior pólo mundial da modalidade.