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DESPEDIDA

Julio Cesar se aposentará sem tomar gol de Messi

Em cinco duelos contra o argentino, goleiro do Flamengo, que se aposenta neste sábado (21/4), não foi vazado pelo craque

postado em 21/04/2018 13:33 / atualizado em 21/04/2018 13:44

Gilvan de Souza/Flamengo
Julio Cesar diz que sabe qual será a manchete dos jornais no fim da vida: “Morre o goleiro do 7 x 1”. Antes disso, o pai de Cauet e Giulia poderá contar uma linda história aos netinhos. Era uma vez, um goleiro nascido em Duque de Caxias (RJ) que pendurou as luvas sem jamais ter sofrido gol de Lionel Messi — o gênio que forma com Diego Armando Maradona e Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, a santíssima trindade do futebol.

Não foi por falta de encontros. O Correio levantou todos os duelos de Julio Cesar contra Messi na carreira. Foram cinco confrontos diretos. Um deles, justamente em Rosário, a cidade argentina em que a Pulga nasceu.

Naquele 5 de setembro de 2009, o goleiro da Seleção Brasileira até sofreu gol do meia Dátolo, mas viu Luis Fabiano marcar duas vezes e Luisão, uma, no triunfo verde-amarelo por 3 x 1, no Gigante de Arroyito. O então técnico Diego Armando Maradona pediu para a equipe alviceleste mandar o clássico na terra natal do jogador eleito cinco vezes melhor do mundo como forma de estimulá-lo. Porém, os comandados de Dunga calaram os conterrâneos do craque.

Uma das obras-primas da carreira de Julio Cesar teve Messi como personagem. Curiosamente, em um outro habitat do astro — o Camp Nou. “Ele (Messi) é brabo comigo por causa disso. Uma das defesas mais legais que fiz na carreira foi contra ele, na semifinal da Liga dos Campeões, em 2010, no Camp Nou. Foi bacana. Ainda mais contra o melhor jogador do mundo, numa competição importante na casa deles”, conta.

A exibição garantiu a Inter na final da Champions League. O time derrotou o Bayern de Munique por 2 x 0 no Santiago Bernabéu, em Milão, e a equipe italiana quebrou tabu de 45 anos. Por sinal, Julio Cesar e Dida são os úicos goleiros brasileiros  que sentiram o gostinho de faturar o principal título de clubes do mundo.

O goleiro também poderá colocar os netinhos no colo e admitir que já foi vilão da Seleção nas quartas de final da Copa de 2010 contra a Holanda do carrasco Sneijder, mas também teve seu dia de herói. Graças ao gol de Adriano, o Imperador, no último lance da final da Copa América de 2004. A decisão foi para os pênaltis e ele defendeu a cobrança de D’Alessandro. Na segunda, Heinze mandou a bola pelos ares e o Brasil triunfou por 4 x 2.

Reprodução/Youtube
Julio Cesar foi ídolo do Flamengo em um dos períodos mais difíceis da história do clube. Assumiu o papel de herói de um time que insistia em flertar com o rebaixamento no início do anos 2000. Teve maturidade para estrear numa fria como goleiro rubro-negro. Tinha 17 anos e 8 meses na vitória por 1 x 0 no Parque Antártica, em uma semifinal de Copa do Brasil. Na partida seguinte, uma fria: titular no clássico contra o Fluminense pelo Campeonato Carioca, no Maracanã. O tricolor venceu por 2 x 0. O resto da história você conhece. Julio César virou ídolo do Flamengo, da Internazionale e participou de três Copas do Mundo: uma como reserva de Dida e Rogério Ceni, em 2006; e duas como titular (2010 e 2014).

Aos 38 anos, o vilão de Messi não conseguiu ser herói de si mesmo. Perdeu para as dores nas costas. Luta desde 2010 com o problema. Há oito anos, na Copa da África do Sul, usou até uma proteção proibida pela Fifa para amenizar o problema. No Flamengo, vinha treinando à base de remédios. O italiano Buffon, por exemplo, continua atuando em altíssimo nível aos 40 anos.

A última página da carreira do melhor goleiro da Europa em 2010 será escrita neste sábado, Após seis clubes, quase 30 títulos na carreira e 286 jogos pelo Flamengo, ele ouvirá “fica, Julio Cesar” de um coral de mais de 40 mil pagantes no Maracanã, na partida contra o América-MG, pela segunda rodada do Brasileirão, nãos não pretende ceder aos apelos.

Julio Cesar recebeu proposta para renovar o contrato e até mesmo assumir um cargo executivo no clube. Porém, não cedeu à tentação. “Foram 21 anos brilhantes. De muitos altos e baixos, mas coleciono mais momentos felizes do que tristes. Fiz um resumo rápido e achei que era o momento. A vida não é só de momentos legais, especiais. Há os dois lados da moeda. Procuro analisar friamente o quanto errei e aprender para errar menos daqui para a frente. Sou um cara privilegiado por ter tantas pessoas que me acompanharam, estiveram ao meu lado, vibraram, torceram, choraram.”

Carreira

Nome: Julio Cesar Soares de Espíndola
Nascimento: 3/9/1979
Local: Duque de Caxias (RJ)
Clubes: Flamengo (1997-2005), Chievo (2005), Internazionale (2005-2012), Queens Park Rangers (2012-2014), Toronto FC (2014), Benfica (2014-2017), Flamengo (2018)

Principais títulos

Flamengo
 
Copa dos Campeões (2001), Campeonato Carioca (1999, 2000, 2001 e 2004)

Internazionale
 
Campeonato Italiano (2006, 2007, 2008, 2009 e 2010), Copa Itália (2006, 2010 e 2010), Supercopa da Itália (2005, 2006, 2008 e 2010), Liga dos Campeões da Europa (2010), Mundial de Clubes da Fifa (2010)

Benfica
 
Campeonato Português (2015, 2016 e 2017), Taça de Portugal (2016), Taça da Liga (2015), Supercopa de Portugal (2016)

Seleção Brasileira
 
Copa América (2004), Copa das Confederações (2009 e 2013)

Julio Cesar x Messi

18/06/2008  
Brasil 0 x 0 Argentina (Eliminatórias)
O goleiro fecha o gol para a Pulga no Mineirão, em Belo Horizonte.

16/09/2009 
Internazionale 0 x 0 Barcelona (Champions League)
O encontro no Giuseppe Meazza pela fase de grupos termina sem gol.

05/09/2009 
Argentina 1 x 3 Brasil (Eliminatórias)
Em Rosário, terra de Messi,  Luis Fabiano (2), Luisão e Dátolo fazem os gols da partida.

24/09/2009 
Barcelona 2 x 0 Internazionale (Champions League)
Julio Cesar joga, mas Lionel Messi vê a vitória do time catalão do banco de reservas.

20/04/2010 
Internazionale 3 x 1 Barcelona (Champions League)
Sneijder, Maicon e Milito fazem os gols do time de Julio Cesar; Pedro desconta.

28/04/2010 
Barcelona 1 x 0 Internazionale (Champions League)
Piqué garante a vitória inútil do time catalão, que é eliminado nas semifinais.